terça-feira, 8 de abril de 2008

SUSSURROS DO IPÊ AMARELO

 

Sussurros do Ipê Amarelo


Eu caminho sob a copa do ipê,

meus pés afundando levemente

na manta amarela das flores caídas.

Cada pétala, uma pequena vela,

apagada pelo vento.

O cheiro de terra úmida

mistura-se ao perfume doce e efêmero

que as abelhas ainda buscam.

 

Eu toco o tronco rugoso,

sinto a vida pulsando em suas raízes profundas,

invisíveis.

Como eu, ele se ergue,

resistindo às estações,

às chuvas que lavam,

ao sol que queima.

Minhas mãos se perdem

nas fissuras da casca,

linhas que contam histórias

de invernos e primaveras renascidas.

 

Olho para o céu,

azul intenso entre os galhos vazios,

e vejo meu próprio reflexo

na folha verde que ainda se agarra, teimosa.

Um sopro, um murmúrio,

e ela também se solta,

girando em sua dança final,

antes de se juntar ao tapete dourado.

Eu me agacho, pego uma flor,

sua textura macia entre meus dedos.

É tão frágil, tão vibrante,

tão presente.

 

É o instante.

O ipê não pergunta

por que suas flores caem.

Ele apenas as entrega.

E eu, em meio a essa beleza que se despede,

sinto uma paz estranha,

como se cada pétala fosse

um pequeno adeus

que me ensina a aceitar

o fluxo constante das coisas.

E meu coração, um pouco mais leve,

sussurra de volta:

"Obrigado."