Sussurros do Ipê Amarelo
Eu
caminho sob a copa do ipê,
meus
pés afundando levemente
na
manta amarela das flores caídas.
Cada
pétala, uma pequena vela,
apagada
pelo vento.
O
cheiro de terra úmida
mistura-se
ao perfume doce e efêmero
que
as abelhas ainda buscam.
Eu
toco o tronco rugoso,
sinto
a vida pulsando em suas raízes profundas,
invisíveis.
Como
eu, ele se ergue,
resistindo
às estações,
às
chuvas que lavam,
ao
sol que queima.
Minhas
mãos se perdem
nas
fissuras da casca,
linhas
que contam histórias
de
invernos e primaveras renascidas.
Olho
para o céu,
azul
intenso entre os galhos vazios,
e
vejo meu próprio reflexo
na
folha verde que ainda se agarra, teimosa.
Um
sopro, um murmúrio,
e
ela também se solta,
girando
em sua dança final,
antes
de se juntar ao tapete dourado.
Eu
me agacho, pego uma flor,
sua
textura macia entre meus dedos.
É
tão frágil, tão vibrante,
tão
presente.
É
o instante.
O
ipê não pergunta
por
que suas flores caem.
Ele
apenas as entrega.
E
eu, em meio a essa beleza que se despede,
sinto
uma paz estranha,
como
se cada pétala fosse
um
pequeno adeus
que
me ensina a aceitar
o
fluxo constante das coisas.
E
meu coração, um pouco mais leve,
sussurra
de volta:
"Obrigado."