Bússola Cambiante
O norte treme na pupila da
alma,
um algoritmo incerto a
recalcular a rota.
Os polos antes firmes,
agora são palimpsestos,
apagando o caminho, a
direção mais remota.
As antenas internas, antes
tão precisas,
captam ondas de um tempo
dissonante.
Vozes em eco, promessas
imprecisas,
e o mapa da jornada, um
instante hesitante.
No peito, o magnetismo
falha, espasmos de metal,
atração por brilhos
efêmeros, desvios do essencial.
A certeza, um espectro na
neblina digital,
e eu, cativo da própria
corrente, tão instável.
Não há mais a agulha
convicta, o fio condutor,
apenas o girassol confuso,
buscando um sol interior.
E nessa dança tonta, nesse
estranho tremor,
talvez se revele um novo
horizonte, um inédito amor.
Pois na falha da
engrenagem, no curto-circuito da razão,
reside a chance de um novo
arranjo, outra constelação.
De sentir o vento, sem a
camisa de força da obrigação,
e encontrar, no desvio, a
mais autêntica direção.