A Melodia Silenciosa da Saudade
Eu
me sento na janela,
o
vapor da xícara de chá
desenhando
formas no ar frio da manhã.
Lá
fora, a cidade desperta sem pressa,
seus
ruídos abafados
pela
distância e pela névoa.
E
em mim, uma melodia,
silenciosa
e persistente,
começa
a tocar.
Não
é uma canção triste,
não
exatamente.
É
mais como o eco de passos em um corredor vazio,
a
lembrança do calor de uma mão que já não sinto.
É
a saudade,
com
seus dedos invisíveis,
tocando
as cordas da minha memória,
despertando
rostos, risos,
palavras
ditas em outros tempos.
Eu
fecho os olhos
e
as imagens vêm como flashes,
rápidas
e nítidas.
Aquele
dia na praia, o cheiro de sal.
A
conversa de madrugada, a cumplicidade no olhar.
Pequenos
fragmentos que se juntam,
formando
um mosaico
do
que foi e do que permanece,
mesmo
na ausência.
A
garganta aperta um pouco,
mas
não há lágrimas.
É
uma doçura amarga, essa saudade.
Ela
me lembra da riqueza
do
que já vivi,
das
pessoas que cruzaram meu caminho
e
deixaram suas marcas em mim.
É
o presente que o passado me oferece,
um
tesouro invisível
que
guardo dentro do peito.
Eu
abro os olhos novamente,
o
chá agora morno.
O
mundo lá fora continua seu ritmo,
indiferente
à minha melodia interna.
Mas
eu sei que ela está ali,
essa
canção que só eu ouço,
e
que, de alguma forma,
me
faz sentir mais vivo,
mais
humano,
mais
conectado
à
vastidão do que fui
e
ao que ainda sou.