sexta-feira, 19 de junho de 2009

O QUE NÃO ACONTECEU

 

O Que Não Aconteceu

 

Não, não houve o choro.

Os olhos ficaram secos,

a garganta apertada

com as lágrimas que não desceram.

A dor, aprisionada,

virou um nó cego no peito,

uma pedra pesando

em cada respiração.

 

Não, não houve o abismo.

A terra não se abriu

sob os pés cansados.

Fiquei à beira, num limbo raso,

onde a queda era promessa e não realidade,

e a certeza do fundo nunca chegou.

Sem o mergulho, não há subida.

 

Não, não houve o silêncio.

O barulho interno nunca cessou.

Mil vozes competiam,

pensamentos em loop incessante,

um zumbido constante na alma.

Não houve a pausa, a quietude

necessária para ouvir o próprio eco,

para reorganizar o caos.

 

E assim, não houve a cura.

Não um milagre, nem a paciência do tempo.

As feridas ficaram abertas,

sufocadas sob as lágrimas não vertidas,

no limbo sem abismo,

no ruído sem fim.

O peso de tudo o que não foi liberado

tornou-se o meu próprio fardo,

a sombra do que poderia ter sido

se a travessia tivesse acontecido.