O Que Não Aconteceu
Não, não houve o choro.
Os olhos ficaram secos,
a garganta apertada
com as lágrimas que não desceram.
A dor, aprisionada,
virou um nó cego no peito,
uma pedra pesando
em cada respiração.
Não, não houve o abismo.
A terra não se abriu
sob os pés cansados.
Fiquei à beira, num limbo raso,
onde a queda era promessa e não realidade,
e a certeza do fundo nunca chegou.
Sem o mergulho, não há subida.
Não, não houve o silêncio.
O barulho interno nunca cessou.
Mil vozes competiam,
pensamentos em loop incessante,
um zumbido constante na alma.
Não houve a pausa, a quietude
necessária para ouvir o próprio eco,
para reorganizar o caos.
E assim, não houve a cura.
Não um milagre, nem a paciência do tempo.
As feridas ficaram abertas,
sufocadas sob as lágrimas não vertidas,
no limbo sem abismo,
no ruído sem fim.
O peso de tudo o que não foi liberado
tornou-se o meu próprio fardo,
a sombra do que poderia ter sido
se a travessia tivesse acontecido.