quinta-feira, 26 de abril de 2012

MARÉS E AREIAS

 

Marés e Areias

 

Havia uma urgência em cada passo,

Uma pressa em conquistar, em reter.

Eu colecionava instantes como quem guarda joias,

Achando que a força do querer detinha o fluxo.

O futuro era um castelo, o presente, sua construção.

 

Mas a vida, em sua sabedoria silenciosa,

Sussurrava verdades pelas frestas.

Tudo leva tempo.

A semente se faz flor no seu compasso,

A montanha se ergue em milênios de paciência.

Cada riso, cada lágrima, cada entendimento,

Tem sua própria maré para subir e descer.

 

E então, o reverso da mesma moeda:

O tempo leva tudo.

Leva a euforia do auge, a dor do adeus,

O brilho intenso das promessas,

O peso das mágoas mais antigas.

Transforma faces, amacia as dores,

Desfaz o que parecia imutável como areia na correnteza.

 

É a dualidade inescapável da existência.

O tempo que constrói com fibra e delicadeza,

É o mesmo que dissolve, que transforma, que liberta.

A grande lição não está em lutar contra seu curso,

Mas em aprender a surfar em suas ondas.

A aceitar que o que fica, fica com outra forma,

E o que se vai, deixa um espaço para o novo.

 

Não é sobre perder, mas sobre o eterno fluir.

Tudo leva tempo, para ser e para se tornar.

E no final, o tempo leva tudo,

Mas deixa a essência, a alma da experiência,

Gravada na memória de quem aprendeu

A dançar com a sua inexorável passagem.