sexta-feira, 5 de julho de 2013

CORES INVISÍVEIS DA PAIXÃO

 

Cores Invisíveis da Paixão


Eu observo a tela em branco,

o pincel suspenso entre meus dedos,

e me pergunto como pintar o que não tem cor.

Não a paixão que grita, que incendeia,

mas aquela que reside nas entrelinhas,

nos silêncios que dizem tudo.

É uma paleta de tons invisíveis,

percebida apenas pela alma.

 

Eu sinto o frio na barriga antes de um encontro,

aquela eletricidade sutil que anuncia.

Ouço a voz que, por alguma razão,

me acalma e ao mesmo tempo me desordena.

É o risco de um toque,

a promessa contida num olhar demorado.

Não há vermelho vibrante aqui,

mas um calor interno, uma combustão lenta.

 

É a dedicação silenciosa,

o cuidado que se manifesta nos pequenos gestos.

A xícara de café deixada na mesa,

o cobertor estendido nos pés,

o ouvir atento a uma história mil vezes contada.

Não é o drama da tela grande,

mas a intimidade do cotidiano,

pintada em matizes que só o coração compreende.

 

Eu me pego sorrindo sozinho ao pensar em algo,

um fragmento de memória,

um plano futuro.

Há uma doçura agridoce,

um medo leve de que tudo possa se esvair,

mas também uma coragem estranha que me impulsiona.

É a vulnerabilidade de se entregar,

a força de amar sem garantias.

 

E então, eu pinto.

Não com tintas, mas com a respiração,

com a batida do meu próprio pulso.

Eu desenho os contornos da ausência quando ela aperta,

e a luz que irradia quando a presença preenche.

Minha tela invisível está sempre sendo preenchida

com as cores inaudíveis da paixão,

aquelas que não se veem,

mas que se sentem profundamente,

e que dão sentido a cada nuance do meu ser.