Cores Invisíveis da Paixão
Eu
observo a tela em branco,
o
pincel suspenso entre meus dedos,
e
me pergunto como pintar o que não tem cor.
Não
a paixão que grita, que incendeia,
mas
aquela que reside nas entrelinhas,
nos
silêncios que dizem tudo.
É
uma paleta de tons invisíveis,
percebida
apenas pela alma.
Eu
sinto o frio na barriga antes de um encontro,
aquela
eletricidade sutil que anuncia.
Ouço
a voz que, por alguma razão,
me
acalma e ao mesmo tempo me desordena.
É
o risco de um toque,
a
promessa contida num olhar demorado.
Não
há vermelho vibrante aqui,
mas
um calor interno, uma combustão lenta.
É
a dedicação silenciosa,
o
cuidado que se manifesta nos pequenos gestos.
A
xícara de café deixada na mesa,
o
cobertor estendido nos pés,
o
ouvir atento a uma história mil vezes contada.
Não
é o drama da tela grande,
mas
a intimidade do cotidiano,
pintada
em matizes que só o coração compreende.
Eu
me pego sorrindo sozinho ao pensar em algo,
um
fragmento de memória,
um
plano futuro.
Há
uma doçura agridoce,
um
medo leve de que tudo possa se esvair,
mas
também uma coragem estranha que me impulsiona.
É
a vulnerabilidade de se entregar,
a
força de amar sem garantias.
E
então, eu pinto.
Não
com tintas, mas com a respiração,
com
a batida do meu próprio pulso.
Eu
desenho os contornos da ausência quando ela aperta,
e
a luz que irradia quando a presença preenche.
Minha
tela invisível está sempre sendo preenchida
com
as cores inaudíveis da paixão,
aquelas
que não se veem,
mas
que se sentem profundamente,
e
que dão sentido a cada nuance do meu ser.