A Corrente Invisível
O tempo é um rio,
dizemos.
Mas não um rio que
observamos
da margem,
com a certeza de que ele
sempre esteve ali.
É um rio que nos toma.
Uma corrente invisível
que não pergunta se
queremos ir,
se a paisagem à frente nos
agrada.
Cada segundo, uma nova
gota
que se soma, que nos
arrasta.
E as margens, que antes
eram familiares,
se desfazem atrás de nós,
em bruma.
Não há volta. Não há
âncora.
Apenas o fluxo constante,
levando-nos para onde a
água nunca foi tocada,
para a cor e a profundidade
que ainda não conhecemos.
E é nesse arrasto, nesse
desconhecido imposto,
que a vida se faz.
Porque o rio sabe que a
estagnação é o fim,
e a única margem segura
é a que se move conosco.