segunda-feira, 10 de abril de 2017

sábado, 8 de abril de 2017

OS QUE OUVIRAM, OS QUE FUGIRAM

 

Os Que Ouviram, Os Que Fugiram - Capítulo IV

A voz havia sido lançada
como raio que não toca a pele,
mas arde por dentro da essência.

E a Terra estremeceu —
não por terremoto,
mas porque corações se dividiram
como mares diante do vento antigo.

Os que ouviram…
pararam no meio de seus caminhos.
Sentiram a espinha gelar com ternura,
e os olhos se encheram de memória
sem saber do quê.

Um lavrador largou sua enxada,
e ajoelhou sem saber por que.

Uma criança, sem entender o que era fé,
sorriu para o céu e disse “eu lembro”.

Um velho cego, num banco de praça,
chorou, porque viu.

Mas nem todos quiseram escutar.

Alguns taparam os ouvidos com promessas vazias.
Outros riram —
como se a Eternidade fosse brincadeira
inventada por homens cansados de viver.

“É só vento”, diziam.
“É só emoção.”

E voltaram a dormir
em camas que não os sonhavam mais.

Mas para os que ouviram,
mesmo sem entender,
algo mudou.

As árvores pareciam dizer seus nomes.
O tempo caminhava ao lado deles.
E onde antes havia ruína,
brotavam janelas para o alto.

Na Cidade Suspensa,
os sinos tocaram sozinhos.

No Trono Vivo,
Cristo sorriu —
pois a Palavra não volta vazia.