Entre o Foi e o Não Foi
Há um nevoeiro denso na memória,
onde os contornos se perdem,
e as certezas flutuam como sombras.
Será que houve o choro,
ou apenas a ardência contida nos olhos,
uma chuva que nunca alcançou o rosto,
mas encheu os poros da alma?
A distinção se esvai,
entre a lágrima que escorre e a que implode.
E o abismo? Ah, o abismo.
Sinto o vertigem, o frio da beira,
mas não sei se o chão cedeu de vez
ou se apenas dancei na iminência da queda.
Um vazio que é também um pleno,
a ameaça que é presença constante,
sem o alívio de um fundo,
sem a clareza de uma ascensão.
Estou caindo, ou sou a queda em si?
Depois, o silêncio. Ou a ausência dele.
Seria a calmaria que precede a tempestade,
ou o ruído de fundo tão constante
que se tornou a própria quietude?
Uma pausa que não pausa,
um som que não se ouve,
e a mente, presa nesse paradoxo,
não encontra porto, nem voz clara.
E a cura? Ah, a cura.
Ela acende uma luz tênue ao longe,
mas recua ao menor toque.
Não sei se ela vem, se já esteve,
ou se é apenas a miragem
de um fim para o que não tem começo definido.
Uma ferida que cicatriza, mas sangra em segredo,
uma paz que é só a ausência da guerra declarada.
E assim, neste entre-lugar,
onde o sim e o não se abraçam,
eu existo.
Preso na névoa da própria história,
onde o que foi e o que não foi
se torna