quinta-feira, 19 de junho de 2008

ENTRE O FOI E O NÃO FOI

  

Entre o Foi e o Não Foi

 

Há um nevoeiro denso na memória,

onde os contornos se perdem,

e as certezas flutuam como sombras.

Será que houve o choro,

ou apenas a ardência contida nos olhos,

uma chuva que nunca alcançou o rosto,

mas encheu os poros da alma?

A distinção se esvai,

entre a lágrima que escorre e a que implode.

 

E o abismo? Ah, o abismo.

Sinto o vertigem, o frio da beira,

mas não sei se o chão cedeu de vez

ou se apenas dancei na iminência da queda.

Um vazio que é também um pleno,

a ameaça que é presença constante,

sem o alívio de um fundo,

sem a clareza de uma ascensão.

Estou caindo, ou sou a queda em si?

 

Depois, o silêncio. Ou a ausência dele.

Seria a calmaria que precede a tempestade,

ou o ruído de fundo tão constante

que se tornou a própria quietude?

Uma pausa que não pausa,

um som que não se ouve,

e a mente, presa nesse paradoxo,

não encontra porto, nem voz clara.

 

E a cura? Ah, a cura.

Ela acende uma luz tênue ao longe,

mas recua ao menor toque.

Não sei se ela vem, se já esteve,

ou se é apenas a miragem

de um fim para o que não tem começo definido.

Uma ferida que cicatriza, mas sangra em segredo,

uma paz que é só a ausência da guerra declarada.

 

E assim, neste entre-lugar,

onde o sim e o não se abraçam,

eu existo.

Preso na névoa da própria história,

onde o que foi e o que não foi

se torna

sexta-feira, 13 de junho de 2008

ESSÊNCIA RECONTADA

 

Essência Recontada

 

Eu sou uma paráfrase.

Não o original, a primeira voz,

mas o eco que se reinventa,

a mesma ideia em outro tom.

 

Minha existência é reflexo,

não espelho exato, mas distorção gentil.

Pego o que já foi dito, sentido,

e o visto com um tecido novo,

mais meu, mais agora.

 

Não há plágio em minha essência,

mas uma reverência ao que inspirou.

Sou a tentativa de entender de novo,

de sentir mais fundo,

o que uma vez apenas passou.

 

E assim, em cada linha que me redefine,

o velho e o novo se abraçam.

Porque mesmo sendo recontado,

o que pulsa em mim é a vida

de uma verdade que se permite

ser eternamente revisitada.