Crepúsculo do eu despedaçado
No
crepúsculo do eu despedaçado,
a luz se parte em tons indecisos,
meus cacos brilham como espelhos gastos
de um tempo que já não me reconhece.
Há algo
de sagrado na ruína —
um cansaço que se curva em silêncio,
um adeus que não sabe do fim,
mas ainda insiste em acenar.
Cada
fragmento do que fui
se deita sobre a sombra longa
de um dia que não quis terminar,
como se a noite pedisse perdão
por chegar tão tarde.
No
crepúsculo do eu despedaçado,
descubro que sangrar também é forma
de ver beleza onde ninguém vê —
e que a dor, quando se põe,
deixa um fio dourado
entre o que sobrou
e o que virá.