terça-feira, 25 de novembro de 2014

O DESENHO DO INVISÍVEL

 

O Desenho do Invisível

Ninguém o vê, mas todos sentem seu traço,

O escultor etéreo, de dedos ligeiros.

Ele não usa cinzel nem barro,

Sua arte se inscreve no movimento,

Na dança súbita da folhagem,

No ondular dourado do campo de trigo.

 

A curva que o vento faz...

É um arco impreciso, uma geometria fluida,

Nunca a mesma, sempre fugidia.

No cabelo que se levanta em desalinho,

No tecido que se infla como vela,

No sussurro que percorre a grama.

 

É uma caligrafia sem palavras,

Uma mensagem cifrada na natureza.

A curva que ele traça no lago sereno,

Um espelho que se ondula e reflete o céu.

No fumo que escapa da chaminé,

Uma espiral efêmera que se desfaz.

 

Observar a curva que o vento faz,

É tentar decifrar o invisível,

Sentir a força que não se prende,

A liberdade que não se nomeia.

É perceber que o mundo está em constante escrita,

Com letras de ar e vírgulas de folhas,

E que a mais bela das artes, às vezes,

É aquela que não deixa rastro visível,

Apenas a memória da sua dança.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

RAIZ SILENCIOSA

 

Raiz Silenciosa

 

Sou herbáceo de nascença.

Não sou árvore de tronco forte,

nem montanha de pedra antiga.

Minha origem é terra macia,

o primeiro broto que se estica.

 

Minha força não está na altura,

mas na resiliência da raiz,

na seiva que corre sem alarde,

no verde que renasce a cada giz

de sol que o céu me dá.

 

Dobra ao vento, mas não quebra.

Sinto o orvalho na pele fina,

e na calada, floresço,

uma vida simples e genuína.

Sou a grama que ninguém nota,

mas que cobre o mundo.

A vida que persiste,

pequena e profunda.