sábado, 20 de junho de 2015

AMIGO DO REI

 

AMIGO DO REI

 

O protocolo me sufoca, a seda, um peso na pele.

Sorrisos calculados, ecos vazios naquela sala de espelhos.

Eles falam de poder, de guerras e de fortunas,

enquanto eu observo a poeira dançar nos raios de sol furtivos.

 

Eu também sou amigo do rei, dizem.  Mas a amizade se resume

a um aperto de mão frio, a um nó na garganta,

a uma palavra seca, solta no labirinto de seus desejos.

 

Meu reino é a sombra que se estende além dos muros,

a solidão que floresce no jardim negligenciado.

A amizade que ofereço é a da escuta atenta,

o silêncio que acolhe o peso de uma coroa.

 

Não preciso de banquetes, nem de joias cintilantes.

Minha lealdade reside no olhar que desvenda a máscara,

na compreensão que não julga, na palavra não dita

que ecoa mais forte que os cânones e os hinos reais.

 

Eu sou o amigo invisível, o reflexo no espelho quebrado,

a lembrança silenciosa da humanidade que se esconde

sob o brilho opressor do ouro e do cetro.

Eu também sou amigo do rei, em minha própria maneira,

e isso, talvez, seja a verdadeira realeza.

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