AMIGO DO REI
O protocolo me sufoca, a
seda, um peso na pele.
Sorrisos calculados, ecos
vazios naquela sala de espelhos.
Eles falam de poder, de
guerras e de fortunas,
enquanto eu observo a
poeira dançar nos raios de sol furtivos.
Eu também sou amigo do
rei, dizem. Mas a amizade se resume
a um aperto de mão frio, a
um nó na garganta,
a uma palavra seca, solta
no labirinto de seus desejos.
Meu reino é a sombra que
se estende além dos muros,
a solidão que floresce no
jardim negligenciado.
A amizade que ofereço é a
da escuta atenta,
o silêncio que acolhe o
peso de uma coroa.
Não preciso de banquetes,
nem de joias cintilantes.
Minha lealdade reside no
olhar que desvenda a máscara,
na compreensão que não
julga, na palavra não dita
que ecoa mais forte que os
cânones e os hinos reais.
Eu sou o amigo invisível,
o reflexo no espelho quebrado,
a lembrança silenciosa da
humanidade que se esconde
sob o brilho opressor do
ouro e do cetro.
Eu também sou amigo do
rei, em minha própria maneira,
e isso, talvez, seja a
verdadeira realeza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário