terça-feira, 19 de junho de 2018

SUPRIMIR O BEIJO

  

Suprimir o Beijo

 

A boca se aproxima,

um quase toque,

o ar treme entre nós,

carregado de tudo que não dizemos.

E então, recuo.

 

Não é falta de desejo,

mas um oceano de razões

que me impede de cruzar

essa fronteira mínima.

A pele pulsa, a memória insiste,

mas a mão invisível

daquilo que precisa ser,

me puxa para trás.

 

É um sabor que nunca chega à língua,

um calor que morre no ar gelado

da decisão.

O beijo suprimido,

esse não-acontecimento,

pesa mais que mil entregas.

 

Ele paira entre nós agora,

fantasma de um futuro não vivido,

eco de um passado que insiste.

E nele, nesse vácuo,

mora o amor que escolhe a ausência,

a dor de reter o desejo

para que algo maior, talvez,

não se desfaça.

 

m a mesma, inatingível, verdade.

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