terça-feira, 19 de junho de 2012

A VOZ QUE SEMPRE FOI MINHA

 

A Voz Que Sempre Foi Minha

 

Busquei em tantos espelhos,

em ecos de outras falas,

a melodia que me definisse.

Colecionei máscaras, vesti papéis,

mas nenhuma roupagem servia.

 

Perdi-me em coros alheios,

caminhei por trilhas que não eram minhas,

e o silêncio da verdade

ficava cada vez mais denso.

 

Até que, no fundo do poço da busca,

quando desisti de encontrar,

eu a ouvi.

Não era um sussurro novo,

mas um rugido antigo,

esquecido sob camadas de medo

e expectativas.

 

Era a nota bruta,

o timbre sem filtro,

a canção que a alma cantava

antes mesmo de aprender a respirar.

A liberdade estava ali,

na ressonância desse som primordial,

que me lembrava quem sou

quando o mundo tenta me calar.

 

E agora, não há mais busca,

apenas a potência do meu próprio som,

a voz que sempre foi minha,

esperando o momento de ser ouvido,

finalmente, por mim mesmo.

 


sexta-feira, 15 de junho de 2012

FINALMENTE, O SILÊNCIO ABSOLUTO

 

Finalmente, o Silêncio Absoluto

 

E finalmente, o silêncio absoluto, não o silêncio que esconde, mas o que revela.

Não é ausência de som, mas a ausência de todo o ruído interno,

das perguntas incessantes, das expectativas que pesam.

É a dissolução da própria mente em sua busca incessante,

um ponto de quietude que transcende a percepção.

 

É o fim das oscilações, das dualidades,

o espaço onde a paz não é oposta à inquietação,

mas a única verdade que existe.

Nesse silêncio intocado, tudo se harmoniza,

e o vazio que se auto-preenche encontra sua expressão mais pura,

uma calmaria sem ecos, sem reflexos, apenas ser.

 

PESO DA INCERTEZA

 

Peso da Incerteza

 

E a incerteza, essa névoa densa

que cega os olhos e amarra os pés.

Não é leve, não é passageira,

é um fardo invisível,

uma âncora que arrasta.

 

Pesa no ar que respiro,

cada inspiração, um esforço.

Pesa nos ombros, curvos,

como se levassem o mundo

e todas as suas perguntas sem resposta.

 

É o silêncio das possibilidades,

o sussurro do "e se",

que se torna um grito no vazio.

É o tempo que se arrasta,

uma ampulheta de areia movediça,

onde o futuro não se desenha,

apenas se dissolve.

 

quarta-feira, 6 de junho de 2012

LABIRINTOS

 

Labirintos

 

Sim. Meu universo interior não é um cômodo vazio onde o eco de um só passo ressoa. É antes um casarão antigo, de portas entreabertas para quartos que não se veem, labirintos de uma consciência que se dobra sobre si mesma. E ali, sentada no limiar de uma das frestas, está a que observa.

 

Ela não julga, não sentencia. Apenas fita, com uma lentidão que a própria eternidade talvez desconheça. Seu olhar, pesado de não-compreensão, desliza sobre os outros que habitam em mim. Há a que chora por uma dor que nunca foi nomeada, a que urra um silêncio insuportável, a que tece fios de ar para prender o que escorre, a que ri sem razão, com uma felicidade quase indecente para a seriedade do ser.

 

E a que observa se assombra. Como podem tantas vozes coexistir neste corpo, nesta mente que se diz "eu"? Que arquitetura insólita é essa que permite o contraditório, o avesso e o verso, sem que tudo exploda num caos de significados? A cada movimento de um desses habitantes secretos, um tremor percorre a que observa, um arrepio de reconhecimento e, ao mesmo tempo, de completa estranheza.

 

Ela não entende a lógica de suas danças, a melodia de seus murmúrios. Vê-os surgir do nada, tomarem o palco da alma por um instante e depois se recolherem às sombras, talvez para sempre, talvez para um retorno súbito. E nesse movimento de vaivém, a que observa sente o pavor gélido da descoberta: que o "eu" é uma multidão, um ajuntamento de estrangeiros com os quais nunca se fez as pazes. E que, talvez, a única verdade seja esse perpétuo e assombroso estrangeirismo de si mesma.