domingo, 15 de junho de 2014

JOVEM POR SER JOVEM

 

JOVEM POR SER JOVEM

 Jovem por ser jovem.

Ainda.

Dezessete anos de existência,

um pouco menos, um pouco mais.

Violência feita de gratuita violência.

Sabe tantas pedras nas mãos

Para esquecer que existem as diferenças

Sabe tantas farpas na voz para vocifera suas

Equivocadas verdades.

Esquece os valores que sequer chegou a codificar

Esquece que o mundo não se fez somente para si.

Temos vontades, todos temos, de lhe passar

Conselhos caretas:

Grite e escancare suas energias.

Dance.

Cante.

Mostre-se diante do imenso milagre

de renascer a cada dia.

Não grite suas semânticas e gramáticas sem propósitos

Com o simples intuito de ferir,

ignorando assim as infindáveis possibilidades de diferenças.

Gritar sem causa e apedrejar em despropósito

Não inverterá a mão da contra-mão da história.

Celebre a diferença e cultive a força do amor solidário.

Entenda os mecanismos da troca

e enfrente a vida de braços abertos para o sucesso.


PLENITUDE NA VASTIDÃO DO NADA

 

Plenitude na Vastidão do Nada

 

E a plenitude na vastidão do nada, o ápice do paradoxo,

onde o vazio não é falta, mas presença absoluta.

Não é um espaço oco à espera de preenchimento,

mas o próprio infinito que se revela em sua essência.

 

É a liberdade de não ter contornos, de não ter limites,

a paz de ser tudo e nada ao mesmo tempo.

Nesse "não-lugar", a mente se aquieta,

e a existência transcende a forma, o nome, o peso.

É a perfeição do ser desprovido,

onde a completude nasce da ausência de tudo,

e o silêncio se torna a sinfonia mais rica.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

A EPIFANIA DO FIM DO VASTO

 

A Epifania do Fim do Vasto

O instante veio sem aviso, como a chegada de uma mosca, mas com o peso de um meteoro. Eu estava ali, debruçada sobre o parapeito da janela, ou talvez sobre a mesa de plástico de um café qualquer, onde o cheiro de café requentado pairava como uma névoa de rotina. Havia um prato à minha frente, vazio, e um copo com marcas de dedos. O mundo visível, com sua insistência teimosa, desenrolava-se lá fora: o ir e vir de pessoas que não me viam, o cinza exato do asfalto, o semáforo que mudava com uma regularidade exasperante.

 

E então, aconteceu. Aquele "eu" vasto, oceânico, que até então parecia conter constelações inteiras, abrigar silêncios que reverberavam em outros universos, sentir a dor de todas as existências passadas e a alegria de todas as futuras — esse "eu" começou a encolher. Não foi um colapso súbito, mas uma retração lenta, quase imperceptível, como a maré que recua e revela a areia antes submersa.

 

Aquele meu universo interior, antes ilimitado e feito de matéria onírica e de pensamentos que se gestavam em bolhas de ar e luz, de repente bateu nas paredes. Nas paredes lisas e inquebráveis do agora. Do concreto. Da voz do vendedor de pão, do choro de uma criança na rua, do tic-tac do relógio que me lembrava que o tempo, o tempo exterior, aquele que se mede e se gasta, continuava. Sem que eu pudesse fugir.

 

O assombro não era de terror, mas de uma compreensão gélida: toda aquela vastidão, toda a complexidade e os abismos que eu construíra dentro de mim, tudo aquilo esbarrava no pão, na conta de luz, na necessidade de respirar um ar que era o mesmo para todos. Minha alma, antes uma galáxia em expansão, sentiu-se aprisionada na caixa de um corpo, na dimensão exata de uma cadeira de plástico, na duração de um gole de água.

 

E a epifania se deu na desilusão singela: que o mais profundo de mim, o mais complexo e indizível, era, afinal, obrigado a se dobrar à simplicidade brutal do existir. Que o "eu" não era um universo autônomo, mas uma bolha frágil, flutuando à mercê do vento monótono do mundo, do mundo visível. E que a grandiosidade da minha consciência, por mais que se esforçasse, teria sempre de se encaixar nas gavetas apertadas do cotidiano. E isso, por um instante, foi insuportavelmente claro. E chato. E real.