quinta-feira, 23 de maio de 2019

RUAS EM SILÊNCIO

 

Ruas em Silêncio

Quando a cidade dorme
as ruas se fazem silêncio
um silêncio que fala
em vozes mansas e pausadas

não há pressa nem barulho
apenas o sussurro do vazio
e o eco das lembranças
que ficaram no asfalto

essas ruas silenciosas
guardam os segredos do dia
os passos que não ouvimos
e os sonhos que ainda vêm

é no silêncio da rua
que encontro a paz oculta
a promessa de um novo
amanhecer

O EFÊMERO TEATRO DA VIDA

 

Efêmero Teatro da Vida


Eu me sento, espectador silencioso,

no grande palco do mundo.

As luzes mudam com o passar das horas,

o cenário, a cada estação.

E os atores, nós mesmos,

entram e saem de cena,

em um balé constante de chegadas e partidas.

É o teatro efêmero da vida.

 

Eu observo os figurinos, as máscaras,

as expressões que mudam a cada fala,

a cada passo.

Há o drama, a comédia, a tragédia,

tudo misturado em um enredo sem ensaio prévio.

As cortinas se abrem e se fecham,

e a cada ato, uma nova versão de nós surge,

moldada pelas experiências,

pelas dores, pelos amores.

 

Há cenas que eu gostaria de pausar,

de reviver em câmera lenta:

o riso que explodiu sem motivo,

o abraço que me aqueceu a alma,

o instante de revelação que mudou tudo.

E há outras que eu gostaria de apagar,

de reescrever,

mas o script não permite.

A vida segue seu curso imparável,

e nós, apenas interpretamos nossos papéis.

 

Eu sinto a fragilidade de tudo.

A beleza que desabrocha e fenece,

a voz que se cala,

o olhar que se perde no horizonte.

Mas também sinto a força da impermanência,

que nos ensina a valorizar cada aplauso,

cada silêncio,

cada respiração no palco.

 

E ao final do dia, quando as luzes diminuem,

e o palco se prepara para a próxima performance,

eu me levanto, talvez um pouco mais sábio,

um pouco mais consciente

de que sou parte dessa grande peça sem fim.

E a cada amanhecer,

a cortina se ergue novamente,

e eu estou pronto para o meu próximo ato,

nesse teatro efêmero e maravilhoso que é viver.

domingo, 12 de maio de 2019

INFLAÇÃO - MONSTRO VORAZ

Inflação - Monstro Voraz

O pão na prateleira

Olha pra mim

Com um preço que era de ontem

Mas hoje

É o dobro

Ou mais.

O carrinho do mercado

Encolhe.

As marcas preferidas

Viraram luxo.

A gente faz conta

No corredor

Com a calculadora do celular

E a esperança minguando.

O salário?

Ah, o salário...

Um papel que derrete

Nas mãos.

Compra menos,

Vale menos,

A cada dia que passa.

O futuro fica turvo.

Os planos,

Aqueles pequenos sonhos

De uma viagem,

De uma reforma,

De um conforto a mais,

Adormecem.

Ou fogem.

A gente aperta o cinto.

De novo.

E de novo.

Até sentir o osso.

O dinheiro que não dá

É a conversa da esquina,

Do almoço,

Do fim do dia.

Inflação alta.

Não é só um número

Na notícia.

É a vida que encolhe

No prato,

No bolso,

Na alma da gente.


MONSTRO VORAZ

(Soneto sem fim)

O preço sobe em rampa sem ter fim,

E o troco some, vira pó no ar,

O que era certo, hoje é incerto assim,

O quilo do queijo, triste de pagar.


A feira murcha antes de chegar em casa,

O sonho de ter algo vai morrendo,

A cada novo dia, a vida escassa,

O bolso chora, a gente vai sofrendo.


A conta chega cruel, sem ter piedade,

O plano de poupar, vira miragem,

E o futuro incerto, sem claridade,


A vida aperta em cada nova passagem.

Assim a inflação, monstro voraz,

Consome a esperança, rouba a paz.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

CENSORED

 Censored

porque meus lábios prenunciaram
tanta batalha de ser contrário ao cérebro,
que insistia em afirmar:
não,
que o momento não se fazia preparado.
quedaram-se, então,
lábios e pensamentos
apressados em ânsias
de tanto se entregar
à procura dos arrepios,
dos movimentos desconexos,
dos prazeres da pele
— e do corpo mais profundo.
refeitos do susto causado
pelo encontro com o instante
de encantamento
e de louvor ao prazer,
quem passou a dar ordens
ao cérebro, antes tímido,
foram, a um só tempo,
lábios e mãos
que, despudorados,
não se permitiam censuras.

quarta-feira, 1 de maio de 2019

INSÔNIAS 

 

INSÔNIAS

Escancarou-se a boca da noite,
a engolir-me em seus
deprimentes silêncios,
estilhaçando cristais.

Seus tentáculos sustentados
em minha garganta,
tirando-me a calma
e a alma.

Lá, não-sei-onde,
o badalar de não-sei-quantas
horas a avisar-me
que se avizinhava a manhã,
doentia,
grávida de sol.

Não é o tempo que não passa,
são os cães que não ladram,
as corujas que não piam,
o aquário que não borbulha,
(e os scotchs que não são mais
os mesmos,
definitivamente não são).

A cama se faz imensa,

mas o abandono me reclama,
enquanto o buscar solitário
da saciedade
ainda se refestela em mim,
em gotas que,
cristalinas,
despencam do chuveiro
reparador.


Foto de Barra do Piraí - RJ - Rua Governador Portela - 03-02-2018 - Vicente Siqueira

 

Foto de Barra do Piraí - RJ -

Rua Governador Portela -

03-02-2018 -

Vicente Siqueira