segunda-feira, 24 de maio de 2021

GUARDEI SEU LINK NO CORAÇÃO

 Guardei seu link no coração

Não foi numa aba do navegador,
nem num bloco de notas perdido.
Guardei teu link
no canto esquerdo do peito,
entre um sopro e outro,
onde pulsa o que não se explica.

Não salvei no histórico —
salvei na história.
Com letra miúda,
mas sentimento alto.

Teu endereço ficou
impresso na pele da memória,
como um atalho secreto
pra quando tudo for silêncio.

E se o mundo cair da conexão,
ainda assim te encontro
no lugar onde a tecnologia falha
e a lembrança começa.

Guardei teu link
no coração.
Lá não tem vírus,
só versos.
E o clique é interno.

FIZ BACKUP DO QUE SENTI

 

Fiz backup do que senti

Antes que apagasse,
fiz backup do que senti.

Copiei teu riso pra uma pasta segura,
salvei teu olhar em nuvem,
nomeei como “inesquecível_final_versão”.

Desconfio dos sistemas,
mas confiei no instante:
aquele em que tua presença
parecia carregar todos os megabytes da ternura.

Não deixei que deletassem.
Mesmo que tu saísses do frame,
mesmo que mudassem o código.

Criei senhas em metáforas,
formatei a saudade em poema,
e instalei um antivírus
contra tudo que tentasse reescrever
o que fomos.

Agora, se quiseres saber,
ainda estás lá —
entre os arquivos ocultos do toque,
nas configurações avançadas da lembrança.

Fiz backup do que senti.
E ainda acesso,
mesmo off-line.

sábado, 22 de maio de 2021

VENTO ENTRE PRÉDIOS

 

Vento entre Prédios

escapo pelo vão
onde o concreto se dobra
e o vento sussurra histórias
que o cimento esqueceu

ele dança leve,
quase invisível
entre muros altos
que tentam calar o céu

carrega o cheiro da chuva
o eco dos passos apressados
e leva embora o calor
que a cidade tenta prender

no vento entre prédios
encontro liberdade
mesmo cercado de aço,
me sinto um pássaro
que aprende a voar no silêncio

e assim, respiro fundo
e deixo que o vento leve
o que não preciso guardar

NO SINAL VERMELHO DO DESTINO

 No Sinal Vermelho do Destino

Parei no tempo
num instante suspenso
onde o mundo hesita
antes do próximo passo

o sinal vermelho
não é só cor
é uma pausa
entre o querer e o ser

é o silêncio que grita
na espera impaciente
um convite para olhar
para dentro

ali, no meio da rua
entre buzinas e sonhos
aprendi que o destino
não é linha reta

é curva, é breque
é escolha feita
no compasso da espera

e mesmo parado,
sei que caminho —
porque a vida acontece
no entretempo

LUZES DE CONCRETO

 

Luzes de Concreto

A cidade acende
antes do sol sumir
como quem tem medo
do escuro de si mesma

faróis piscam como corações
em estado de urgência
e as janelas brilham
feito promessas adiadas

há beleza
no aço que respira
na pressa que também ama
nos passos que se cruzam
sem saber os nomes

sou feito de calçadas
que ouviram confissões
e de postes que vigiaram
minhas noites mais densas

mas mesmo entre muros
e buzinas e fumaça
a vida insiste
em florescer rachaduras

as luzes de concreto
não aquecem a pele
mas acendem
alguma fé
de que ainda é possível

domingo, 9 de maio de 2021

VEM

 

VEM

e a timidez se fez presente,
a te deixar envergonhada
por estar diante das lentes
do meu cristalino,
que desnudavam tuas curvas
enquanto minhas mãos desprendiam,
de teus ombros, as alças
do vestido de algodãozinho.

não parecias saber o que fazer,
o que dizer,
a não ser o natural fechar de pernas,
cobrir os seios com as mãos
e deixar-se submissa,
ser acariciada.

a pele,
porém,
denunciava o desejo quase incontido
de dar-se,
para que corpo se confundisse
com corpo,
para que os movimentos
eternizassem o momento.

costas apoiadas nos lençóis,
olhos semicerrados,
a divisar-me na chegança do bem —
e nada podias dizer
mais lindo e sublime
que o teu desajeitado:
vem.