quarta-feira, 19 de junho de 2013

AMORES QUE NÃO SABEM QUE FORAM

 Amores que Não Sabem se Foram

 

Não houve adeus marcado,

nem porta batida com estrondo.

Apenas um silêncio alongado

que se espalhou entre nós,

como névoa ao amanhecer.

 

Eles pairam, esses amores,

como canções esquecidas no rádio,

mas que de repente tocam,

e a melodia enche o ar

de um tempo que ainda vive.

 

São risos que ressoam

em corredores vazios,

toques que a pele ainda lembra,

perfumes que o vento,

cruelmente, às vezes traz.

 

Não se sabe se morreram,

se adormeceram profundamente,

ou se apenas mudaram de endereço,

morando agora

na penumbra dos pensamentos,

na cicatriz que não dói,

mas que nunca sumirá.

 

E assim, carregamos essas sombras leves,

essas presenças ausentes,

amores que se recusam a ser passado,

eternamente suspensos

entre o que foi e o que não é mais,

sem nunca saberem

se, de fato, partiram.

 

sábado, 15 de junho de 2013

O VAZIO QUE SE AUTO-PREENCHE

 

O Vazio Que Se Auto-Preenche

 

E o vazio que se auto-preenche, um paradoxo

que desfaz a lógica do que é ausência.

Não é um nada que espera ser completo,

mas uma plenitude que surge de si,

uma existência que se basta sem ter.

 

É como a vastidão do céu noturno,

que parece vazio, mas é infinito em estrelas invisíveis,

uma profundidade que se revela em sua própria essência.

Não há necessidade de adição, de preenchimento externo,

pois a essência já está ali, em cada não-coisa.

 

Nesse espaço, a paz é a própria matéria,

o silêncio, a voz mais alta que se pode ouvir.

É a libertação do conceito de falta,

a descoberta de que o vazio não é carência,

mas a forma mais pura de ser, a totalidade em sua vastidão.

 

A AUSÊNCIA E A PRISÃO

 

A Ausência e a Prisão

 

E a luz, um mero boato,

uma lenda distante.

Aqui, só a escuridão se estende,

pesada e sem promessas.

Não é sombra, é ausência,

um vazio que engole cores e esperanças.

 

E nesse escuro, a prisão.

Não há grades, não há muros visíveis,

mas as paredes apertam,

o ar rarefeito sufoca.

É uma celas invisível,

tecida de incertezas e de "nãos".

 

Cada passo é um tropeço no breu,

cada respiração, um grito abafado.

E a saída, um eco que não chega,

uma porta trancada por dentro,

sem chave, sem maçaneta,

apenas o silêncio opressor.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

LABIRINTOS

 

Labirintos

 

Sim. Meu universo interior não é um cômodo vazio onde o eco de um só passo ressoa. É antes um casarão antigo, de portas entreabertas para quartos que não se veem, labirintos de uma consciência que se dobra sobre si mesma. E ali, sentada no limiar de uma das frestas, está a que observa.

 

Ela não julga, não sentencia. Apenas fita, com uma lentidão que a própria eternidade talvez desconheça. Seu olhar, pesado de não-compreensão, desliza sobre os outros que habitam em mim. Há a que chora por uma dor que nunca foi nomeada, a que urra um silêncio insuportável, a que tece fios de ar para prender o que escorre, a que ri sem razão, com uma felicidade quase indecente para a seriedade do ser.

 

E a que observa se assombra. Como podem tantas vozes coexistir neste corpo, nesta mente que se diz "eu"? Que arquitetura insólita é essa que permite o contraditório, o avesso e o verso, sem que tudo exploda num caos de significados? A cada movimento de um desses habitantes secretos, um tremor percorre a que observa, um arrepio de reconhecimento e, ao mesmo tempo, de completa estranheza.

 

Ela não entende a lógica de suas danças, a melodia de seus murmúrios. Vê-os surgir do nada, tomarem o palco da alma por um instante e depois se recolherem às sombras, talvez para sempre, talvez para um retorno súbito. E nesse movimento de vaivém, a que observa sente o pavor gélido da descoberta: que o "eu" é uma multidão, um ajuntamento de estrangeiros com os quais nunca se fez as pazes. E que, talvez, a única verdade seja esse perpétuo e assombroso estrangeirismo de si mesma.