quinta-feira, 6 de junho de 2013

LABIRINTOS

 

Labirintos

 

Sim. Meu universo interior não é um cômodo vazio onde o eco de um só passo ressoa. É antes um casarão antigo, de portas entreabertas para quartos que não se veem, labirintos de uma consciência que se dobra sobre si mesma. E ali, sentada no limiar de uma das frestas, está a que observa.

 

Ela não julga, não sentencia. Apenas fita, com uma lentidão que a própria eternidade talvez desconheça. Seu olhar, pesado de não-compreensão, desliza sobre os outros que habitam em mim. Há a que chora por uma dor que nunca foi nomeada, a que urra um silêncio insuportável, a que tece fios de ar para prender o que escorre, a que ri sem razão, com uma felicidade quase indecente para a seriedade do ser.

 

E a que observa se assombra. Como podem tantas vozes coexistir neste corpo, nesta mente que se diz "eu"? Que arquitetura insólita é essa que permite o contraditório, o avesso e o verso, sem que tudo exploda num caos de significados? A cada movimento de um desses habitantes secretos, um tremor percorre a que observa, um arrepio de reconhecimento e, ao mesmo tempo, de completa estranheza.

 

Ela não entende a lógica de suas danças, a melodia de seus murmúrios. Vê-os surgir do nada, tomarem o palco da alma por um instante e depois se recolherem às sombras, talvez para sempre, talvez para um retorno súbito. E nesse movimento de vaivém, a que observa sente o pavor gélido da descoberta: que o "eu" é uma multidão, um ajuntamento de estrangeiros com os quais nunca se fez as pazes. E que, talvez, a única verdade seja esse perpétuo e assombroso estrangeirismo de si mesma.

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