A saudade, sorrateira.
Não a que se chora, mas a
que se finca.
Um andaime espetado em
plena avenida,
nas minhas veias,
nas minhas artérias
dilatadas.
Que estranha arquitetura é
essa que se constrói dentro de mim?
Sua voz, um eco que se
recusava a ser calado,
diria: "Volta."
Uma palavra. Um abismo.
Uma ordem que não se
ordena.
E a gente obedece. Por
que?
Sem perceber as
implicações.
A intenção do carinho,
essa armadilha sutil.
Que muda a gente, sem a
gente querer.
Que tece outra trama,
outro destino.
E de repente,
eu, o que fugia, o que se
esquivava,
percebi-me:
malas na mão,
naquele imenso saguão.
Um lugar de partidas e de
chegadas,
mas que para mim, era
apenas um limbo.
Aguardando a aeronave.
Que me aproximaria.
De você.
Mas de que forma?
Em qual tempo?
Essa aproximação, não é um
ir.
É um deixar-se levar, para
onde?
Para o assombro do que
virá?
Ou para a perplexidade do
que já se foi?