segunda-feira, 11 de maio de 2015

O ALFABETO ESQUECIDO DO AFETO

  

O Alfabeto Esquecido do Afeto

( e o amor se comunicava em línguas antigas)  


Não era o "eu te amo" ruidoso dos filmes, nem as mensagens rápidas na palma da mão. O amor deles tinha o passo lento dos séculos, a cadência das marés que beijam a areia e recuam, deixando rastros de espuma e mistério.
Comunicavam-se em hieróglifos da alma, desenhados no ar com o contorno dos dedos trêmulos, uma gramática de olhares profundos que falavam mais que a voz. Usavam advérbios de silêncio, conjugavam verbos no tempo dos suspiros contidos.
As palavras, quando vinham, eram como pergaminhos amarelecidos, frases cunhadas em um idioma que o mundo esqueceu. Um "fica" dito com a urgência branda de quem sabe que a permanência é um milagre diário. Um "lembra-te" que não pedia recordação, mas selava pactos além da memória.
Eles liam o amor nos veios da madeira antiga, no pó que dançava nos raios de sol que entravam pela fresta. O amor era uma runa gravada no tempo, incompreendida pelos apressados, mas perfeitamente clara para os que ainda sentiam o eco das línguas antigas, aquelas que o coração jamais permite que se percam de verdade.


 

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