O Alfabeto Esquecido do Afeto
( e o amor se comunicava em línguas antigas)
Não era o
"eu te amo" ruidoso dos filmes, nem as mensagens rápidas na palma da
mão. O amor deles tinha o passo lento dos séculos, a cadência das marés que
beijam a areia e recuam, deixando rastros de espuma e mistério.
Comunicavam-se
em hieróglifos da alma, desenhados no ar com o contorno dos dedos trêmulos, uma
gramática de olhares profundos que falavam mais que a voz. Usavam advérbios de
silêncio, conjugavam verbos no tempo dos suspiros contidos.
As
palavras, quando vinham, eram como pergaminhos amarelecidos, frases cunhadas em
um idioma que o mundo esqueceu. Um "fica" dito com a urgência branda
de quem sabe que a permanência é um milagre diário. Um "lembra-te"
que não pedia recordação, mas selava pactos além da memória.
Eles liam
o amor nos veios da madeira antiga, no pó que dançava nos raios de sol que
entravam pela fresta. O amor era uma runa gravada no tempo, incompreendida
pelos apressados, mas perfeitamente clara para os que ainda sentiam o eco das
línguas antigas, aquelas que o coração jamais permite que se percam de verdade.
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