segunda-feira, 11 de maio de 2015

NO DEDO DO VENTO

 

No Dedo do Vento

Abre a noite, e o vento, mão invisível, acaricia a cortina fina. Ela dança, flutua, fantasma branco no batente gasto da janela.

O frio entra, traz a cidade que dorme, um gigante adormecido lá embaixo. Mas o vento não dorme, ele sopra segredos nas coroas das árvores, fala em línguas antigas que só a folha entende.

Cheiro de terra úmida, lembrança de chuva que passou, ou talvez de outra chuva, muito antes, em outro tempo, outra vida. Memórias soltas no ar, carregadas pelo sopro errante.

Lá no alto, as estrelas são pontos frios, ouro velho salpicado no veludo preto. Elas olham, sem ver, sem sentir o murmúrio que tece a noite.

Aqui dentro, a penumbra suave acolhe o silêncio. Guarda as palavras não ditas, as perguntas sem resposta, e um punhado miúdo de esperança, esperando o amanhecer no colo da escuridão.

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