No Dedo
do Vento
Abre a
noite, e o vento, mão invisível, acaricia a cortina fina. Ela dança, flutua,
fantasma branco no batente gasto da janela.
O frio
entra, traz a cidade que dorme, um gigante adormecido lá embaixo. Mas o vento
não dorme, ele sopra segredos nas coroas das árvores, fala em línguas antigas
que só a folha entende.
Cheiro de
terra úmida, lembrança de chuva que passou, ou talvez de outra chuva, muito
antes, em outro tempo, outra vida. Memórias soltas no ar, carregadas pelo sopro
errante.
Lá no
alto, as estrelas são pontos frios, ouro velho salpicado no veludo preto. Elas
olham, sem ver, sem sentir o murmúrio que tece a noite.
Aqui
dentro, a penumbra suave acolhe o silêncio. Guarda as palavras não ditas, as
perguntas sem resposta, e um punhado miúdo de esperança, esperando o amanhecer
no colo da escuridão.
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