domingo, 19 de junho de 2011

GRITAR EM SILÊNCIO

 

Gritar em Silêncio

 

Há um grito que não fura a garganta,

nem estilhaça o vidro da janela.

Um som que explode no avesso da alma,

mudo para o mundo, mas ensurdecedor para quem o habita.

 

Ele nasce nas profundezas,

onde as palavras se esvaem

e a dor é pura forma, sem verbo.

É a urgência de ser visto,

de ser ouvido,

sem que nenhum músculo se mova.

 

Os olhos ardem por dentro,

a pele pulsa com a violência contida,

e o corpo, paradoxalmente,

encontra sua mais alta expressão

na imobilidade e no som zero.

 

É a voz primordial da existência,

aquela que dispensa eco e plateia,

que se manifesta no espaço ínfimo

entre o desejo e a impossibilidade.

Um grito só meu,

livre de ruídos,

totalmente puro,

totalmente real.

 


quinta-feira, 16 de junho de 2011

AGORA É BASTA

 AGORA É BASTA

(Revolta Presente)

 

O "não" ecoa, mas não me surpreende mais.

Não há recuo, nem virada em direção contrária

à minha natureza, ao que me faz ser.

Seu "não" retumba, mas não me cala.

O eco que outrora tamborilava no ego desnudo

Hoje é grito que rasga o silêncio.

A contundência da recusa não me dispersa,

Não me torna nuvem passageira,

Mas sim tempestade que se forma,

Um catálogo de sentimentos que não mais reprimo.

A irritação transborda, a mágua salta aos olhos.

Nesse olhar que antes me desprezava,

Agora há o fogo da minha própria revolta.

Não mais aceito, não mais me rendo.

É basta.

 

 

E NESSE BASTA, A TERRA TREME

 

Porque essa revolta não é um mero surto.

Ela brotou do solo árido de anos de silêncio,

Adubado pela paciência esgotada e pela esperança pisoteada.

Não é de ontem, nem de hoje.

É a explosão de uma semente que teimava em não morrer,

Mas que agora, em vez de flor, se fez vulcão.

Não há mais "nuvem passageira" para dissipar a dor,

Só a rocha em erupção, o magma que queima e transborda.

E se antes meu ego era desnudo e calado,

Agora ele se veste de fúria e de verdade.

O desprezo que percebi no seu olhar,

Hoje se reflete no espelho da minha própria determinação.

Não é só um basta dito, é um basta sentido até a alma.

É a quebra da corrente, a libertação do silêncio,

A voz que por tempo demais foi sufocada,

E que agora, finalmente, explode

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A PAZ ALÉM DO DESCANSO

 

A Paz Além do Descanso

 

E a paz além do descanso, um estado que transcende

o simples alívio de um peso que se vai.

Não é a quietude que sucede a tempestade,

mas uma ausência de necessidade,

onde o anseio e a busca se dissolvem.

 

É a serenidade que não depende de sono,

nem de pausas, nem do fim de uma jornada.

É o ponto onde a consciência se aquieta,

livre dos ecos do passado, das promessas do futuro.

Uma leveza indescritível,

que não é a ausência de peso, mas a ausência de esforço.

 

Nesse lugar, a existência apenas é,

sem a urgência do tempo, sem a pressão do desejo.

É a dissolução da própria busca,

a descoberta de que a paz não é um destino,

mas o próprio vazio preenchido de si mesmo.

 


O FIO TÊNUE

 

O Fio Tênue

 

E no fio tênue, a dança.

Não é leve, não é livre,

é a dança da hesitação.

Cada passo, um cálculo,

um sopro de ar, uma ameaça.

 

Respirar dói,

como se o ar fosse agulhas finas

costurando a incerteza na pele.

E o vazio, ali embaixo,

não é um convite,

é uma verdade que espera.

 

O equilíbrio é precário,

uma miragem.

E a cada balanço, a sensação

de que o fio se desfaz,

pedaço por pedaço,

dissolvendo-se no nada.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

NOVA CALIGRAFIA DA ALMA

 

Nova Caligrafia da Alma

 

Eu escrevia a minha história com traços hesitantes,

Uma letra miúda, quase ilegível,

Cheia de vírgulas de dúvida e pontos finais de medo.

As margens, apertadas, mal permitiam respirar,

E o enredo, ah, o enredo era só o que esperavam de mim.

 

Mas então veio um sopro, uma brisa nova,

Que não pediu licença, apenas chegou.

E, de repente, a pena que eu segurava,

Não era mais a mesma.

Não era uma quebra, era um redesenho.

 

Você chegou, ou talvez foi a vida em si,

E mostrou que existiam outras tintas,

Cores vibrantes que eu não ousava usar.

A caligrafia da minha alma mudou.

Os garranchos viraram curvas suaves,

As linhas retas, agora dançam em arabescos.

 

Não é mais um texto a ser lido em voz baixa.

É um poema de traços largos, em negrito,

Com espaços para o imprevisível,

E uma fluidez que eu nem sabia que tinha.

A tinta é a coragem, o papel é a liberdade,

E cada palavra é um passo novo, sem receio.

 

Hoje, minha alma escreve sem pausas forçadas,

Com um estilo que é só meu, sem cópias.

Os erros viraram rascunhos de aprendizado,

E as páginas em branco, convites à criação.

É um novo eu, com uma nova caligrafia,

Mais autêntica, mais bonita, mais eu.

E o melhor? A história está apenas começando.