Gritar em Silêncio
Há um grito que não fura a garganta,
nem estilhaça o vidro da janela.
Um som que explode no avesso da alma,
mudo para o mundo, mas ensurdecedor para quem o habita.
Ele nasce nas profundezas,
onde as palavras se esvaem
e a dor é pura forma, sem verbo.
É a urgência de ser visto,
de ser ouvido,
sem que nenhum músculo se mova.
Os olhos ardem por dentro,
a pele pulsa com a violência contida,
e o corpo, paradoxalmente,
encontra sua mais alta expressão
na imobilidade e no som zero.
É a voz primordial da existência,
aquela que dispensa eco e plateia,
que se manifesta no espaço ínfimo
entre o desejo e a impossibilidade.
Um grito só meu,
livre de ruídos,
totalmente puro,
totalmente real.