domingo, 2 de março de 2025

FLAGRADOS NO TEMPO

 FLAGRADOS NO TEMPO

não era mais ontem
mas também não era já,
era aquele meio instante
que se esconde nas frestas
onde o tempo esquece de contar.

nossos olhos, clandestinos,
gravaram na memória
o que o corpo não pôde guardar —
um toque,
um nome não dito,
um quase que ficou inteiro.

as horas correram ao contrário,
os ponteiros, cúmplices,
hesitaram um segundo a mais
só pra nos permitir
a eternidade breve
de um gesto.

depois, tudo voltou:
as vozes, os passos,
a pressa dos outros.
mas nós —
nós fomos flagrados no tempo,
na dobra do relógio,
onde o desejo é fósforo aceso
que ainda brilha
mesmo depois de apagado.

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