FLAGRADOS NO TEMPO
não era mais ontem
mas também não era já,
era aquele meio instante
que se esconde nas frestas
onde o tempo esquece de contar.
nossos olhos, clandestinos,
gravaram na memória
o que o corpo não pôde guardar —
um toque,
um nome não dito,
um quase que ficou inteiro.
as horas correram ao contrário,
os ponteiros, cúmplices,
hesitaram um segundo a mais
só pra nos permitir
a eternidade breve
de um gesto.
depois, tudo voltou:
as vozes, os passos,
a pressa dos outros.
mas nós —
nós fomos flagrados no tempo,
na dobra do relógio,
onde o desejo é fósforo aceso
que ainda brilha
mesmo depois de apagado.
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