segunda-feira, 28 de abril de 2025

FLAGRADOS NO SILÊNCIO

 FLAGRADOS NO SILÊNCIO

havia ruído no mundo,
mas entre nós —
uma pausa profunda,
feito respiração suspensa
antes do beijo.

não era ausência de som,
era presença demais:
olhares falavam
o que nenhuma palavra
teria coragem de dizer.

o silêncio nos vestia
como se fosse brisa,
como se fosse véu.
e ali, tão quietos,
dizíamos tudo
sem mexer os lábios.

a cidade passava ao fundo,
com seus motores e seus dias,
mas estávamos noutro plano:
feito música sem melodia,
feito carta sem remetente,
feito tempo sem contagem.

e quando enfim
alguém abriu a porta,
quando o mundo voltou
a nos chamar pelo nome —
era tarde.

já tínhamos sido flagrados no silêncio.
já tínhamos deixado
vestígios de eternidade
no espaço entre dois corações
que bateram calados,
juntos.

domingo, 27 de abril de 2025

QUANDO ALGUÉM OUVE

 Quando Alguém Ouve

Muito tempo depois,
quando o tempo já não contava,
alguém — que não era inteiro,
que já tinha se quebrado demais —
parou.

Não por escolha,
mas por exaustão.
E no espaço entre um suspiro e o esquecimento,
ouviu algo.

Não era som,
mas ausência que vibrava.
Não era voz,
mas um estremecer de dentro.

Era o grito —
aquele antigo, esquecido, sem rosto,
que nunca encontrara seu próprio eco.

Mas agora, enfim,
não precisava mais ser ecoado.
A escuta bastava.
A presença bastava.

E o grito se dissolveu,
não porque foi respondido,
mas porque foi acolhido.

Ali, no silêncio de alguém partido,
ele finalmente pôde descansar.
E no lugar onde gritou por eras,
brotou uma água quieta,
onde a dor se deita,
e o mundo se vê… de novo.

sexta-feira, 25 de abril de 2025

A INFÂNCIA QUE NÃO VOLTA

 

A Infância que Não Volta

Eu queria voltar a ser criança,
mas não posso.

Há um tempo que não se refaz,
um chão que não aceita os mesmos passos.

A criança em mim ainda mora
num canto escondido,
mas as portas estão cobertas de poeira.

Já não sei o caminho exato,
nem o nome dos sonhos
que guardei nas primeiras manhãs.

Queria o riso fácil,
a confiança em promessas simples,
o colo sem perguntas.

Mas carrego agora
outras vozes,
outras esperas,
outras dores que ninguém me ensinou a nomear.

Crescer foi um espanto que ficou.
Não há retorno.

Só essa saudade muda
de um tempo em que bastava fechar os olhos
para estar inteiro.


terça-feira, 22 de abril de 2025

SOU UM MENINO



 Sou um menino...


Sou um menino, cheio de sonhos e de vida

Com um coração que pula, com uma alma que brilha

Eu corro, eu brinco, eu rio, eu vivo

E sinto o mundo ao meu redor, com todos os meus sentidos


Sou um menino, com uma imaginação sem limites

Eu crio mundos, eu crio histórias, eu crio amigos

Eu sou um aventureiro, um explorador, um descobridor

E estou sempre pronto para o próximo desafio


Sou um menino, com um sorriso no rosto

Eu sou feliz, eu sou livre, eu sou eu mesmo

Eu não tenho medo de ser diferente

E eu sei que posso ser quem eu quiser ser


Sou um menino, e isso é tudo que eu preciso

Para ser feliz, para ser eu mesmo

Eu sou um menino, e eu estou vivo

E eu vou aproveitar cada momento, cada segundo.


Essa poesia é uma reflexão sobre a infância e a liberdade de ser um menino, com uma imaginação sem limites e um coração cheio de sonhos e de vida. É um convite para que as pessoas se lembrem da alegria e da liberdade da infância.


Criada em 24 de abril de 2025

terça-feira, 15 de abril de 2025

CADEIRA VAZIA

 

A Cadeira Vazia

o balanço lento na varanda um ritmo fantasma no ar parado a marca tênue no chão de madeira onde os pés costumavam pousar

o tricô inacabado no colo agulhas inertes, fios suspensos a leitura interrompida na página dobrada ao acaso

e nem havia vento para mover as cortinas da sala apenas a quietude densa onde a voz ecoava ausente

a lembrança do riso um som distante, quase esquecido o calor do corpo ausente moldando o vazio do assento

o olhar vago perdido na paisagem buscando uma silhueta familiar a esperança teimosa de um retorno improvável

e a aceitação dolorosa de que alguns espaços guardam para sempre a forma da saudade

Agora usa essa frase como tema: onde a voz ecoava ausente

quinta-feira, 10 de abril de 2025

A PIOR PARTE DO DOMINGO

 

A PIOR PARTE DO DOMINGO

não era sobre lavar cachorro
nem sobre o cheiro do xampu canino
nem sobre o pelo grudando na camiseta velha

era sobre dividir
a pia
as tarefas
o silêncio das manhãs arrastadas

sobre sentar no sofá ainda molhado
e rir de como tudo era ridículo
e bonito

amar era isso:
dividir o que ninguém posta foto
abrir o saco de lixo
sem que isso vire motivo de conversa

mas sonhei alto demais
como quem deseja um domingo com sol
numa semana de enchentes

e percebi tarde
que sonhar sozinho
cansa mais
do que lavar cachorro molhado.