segunda-feira, 28 de abril de 2025

FLAGRADOS NO SILÊNCIO

 FLAGRADOS NO SILÊNCIO

havia ruído no mundo,
mas entre nós —
uma pausa profunda,
feito respiração suspensa
antes do beijo.

não era ausência de som,
era presença demais:
olhares falavam
o que nenhuma palavra
teria coragem de dizer.

o silêncio nos vestia
como se fosse brisa,
como se fosse véu.
e ali, tão quietos,
dizíamos tudo
sem mexer os lábios.

a cidade passava ao fundo,
com seus motores e seus dias,
mas estávamos noutro plano:
feito música sem melodia,
feito carta sem remetente,
feito tempo sem contagem.

e quando enfim
alguém abriu a porta,
quando o mundo voltou
a nos chamar pelo nome —
era tarde.

já tínhamos sido flagrados no silêncio.
já tínhamos deixado
vestígios de eternidade
no espaço entre dois corações
que bateram calados,
juntos.

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