domingo, 27 de abril de 2025

QUANDO ALGUÉM OUVE

 Quando Alguém Ouve

Muito tempo depois,
quando o tempo já não contava,
alguém — que não era inteiro,
que já tinha se quebrado demais —
parou.

Não por escolha,
mas por exaustão.
E no espaço entre um suspiro e o esquecimento,
ouviu algo.

Não era som,
mas ausência que vibrava.
Não era voz,
mas um estremecer de dentro.

Era o grito —
aquele antigo, esquecido, sem rosto,
que nunca encontrara seu próprio eco.

Mas agora, enfim,
não precisava mais ser ecoado.
A escuta bastava.
A presença bastava.

E o grito se dissolveu,
não porque foi respondido,
mas porque foi acolhido.

Ali, no silêncio de alguém partido,
ele finalmente pôde descansar.
E no lugar onde gritou por eras,
brotou uma água quieta,
onde a dor se deita,
e o mundo se vê… de novo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário