sexta-feira, 24 de maio de 2024

CAMINHOS QUE EU NUNCA PERCORRI

 

Caminhos que eu nunca percorri

Guardo uma ternura estranha
pelos caminhos que eu nunca percorri.
As ruas que não desci,
as janelas que não abri,
as pessoas que não olhei por tempo suficiente.

Há algo de poético no quase.
No que ficou por um fio,
num segundo a menos,
num gesto que hesitou.

Penso às vezes:
e se eu tivesse virado à esquerda?
E se tivesse ficado mais cinco minutos?
E se tivesse dito sim?

Mas logo respiro —
porque há beleza também
nos silêncios que escolhi,
nos destinos que deixei intactos.

Cada caminho não trilhado
é uma história que repousa
no fundo do peito,
não como arrependimento,
mas como jardim secreto:
cheio de possibilidades
que não floresceram,
mas perfumam o ar do mesmo jeito.

Não os percorri, é verdade.
Mas, de certo modo,
eles também me moldaram.
Os caminhos que eu não vivi
são parte do que sou.
Como as palavras que não disse,
mas ainda moram na boca,
esperando um poema.

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