segunda-feira, 20 de maio de 2024

NO LABIRINTO DE ESPELHOS

 

No Labirinto de Espelhos

No centro do silêncio,
o tempo não corre.
Ele se quebra —
como vidro sob pressão invisível.

Espelhos por toda parte,
não refletem o que fui,
mas o que poderia ter sido
em infinitas versões de mim.

Os relógios,
pendurados no ar rarefeito,
não tique­tacam,
não avançam —
são testemunhas estáticas
de um agora que se alonga
como uma respiração contida.

Teus olhos,
não janelas,
mas portais.

Mergulhei.

Não houve som, nem resistência.
Apenas o cair —
leve e definitivo.

Ali,
sob o vidro líquido do teu olhar,
cresciam cidades invisíveis,
estradas feitas de intuição,
mares sem bússola
onde navegar era lembrar.

Nesse mundo novo,
o amor
não era susto,
nem faísca,
mas gravidade.
Uma lei inevitável,
calma e total.

Perdi-me.
Ou talvez me desfiz
das margens.

E no azul sem contorno,
soube:
pertencer
é deixar de procurar saída.

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