quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

sábado, 30 de novembro de 2019

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

ROCHA INTOCADA

 

Rocha Intocada

 

Eu sou rocha que ninguém pisou.

Nem musgo, nem lodo,

nem a marca de um pé errante.

Nenhuma bandeira fincada,

nenhuma história escrita em mim.

 

Sou a dureza de um tempo

que não teve testemunhas.

A aspereza original,

o silêncio geológico

antes mesmo do eco.

 

Minha solitude não é falta,

é essência.

Uma integridade de pedra,

onde a erosão

é só o tempo que se olha.

 

E mesmo assim,

sinto em mim o peso da chuva que nunca caiu,

e a promessa de um sol

que me fará brilhar,

mesmo que para olhos

que nunca virão.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

PÁGINA EM BRANCO

 

Página em Branco

 

Não escrevi nenhuma história.

Minha vida é um livro

de páginas lisas,

intocadas.

 

Nenhum enredo de aventura,

nem drama, nem riso alto.

As canetas secaram,

as palavras calaram

antes de virar tinta.

 

Sou o começo que não explodiu,

o meio que não teceu,

o fim que nem chegou a ser ponto.

Um rascunho de alma

sem linhas para preencher.

 

Mas talvez na ausência,

na tela vazia,

esteja a minha verdade.

A quietude de quem vive

sem precisar contar.

Onde a história é só o sopro,

o ar que se respira,

e se dissipa sem deixar vestígios.

 

quinta-feira, 11 de julho de 2019

A ETERNA SEDE DO VIAJANTE

 A Eterna Sede do Viajante

(Espero que capture a amplitude e a perenidade da busca)


Desde o orvalho na folha do campo até a fumaça densa nos bares da madrugada. Pelos becos estreitos onde a sombra se esconde, nas avenidas largas que engolem o horizonte. Nas praias onde a onda desfaz e refaz promessas.

Em todas as casas de paredes finas ou fortes, nas cavernas que guardam segredos primevos, nas palhoças frágeis erguidas contra o vento.

Por todo o tempo que foi, pelo tempo que é, e pelo tempo que virá, existirão, como sempre existiram, os seres.

Com a sede inextinguível nos olhos, com as mãos estendidas no vazio ou na pressa, com o coração batendo no ritmo de um anseio. Em busca de algo cujo nome escapa, uma verdade talvez, um refúgio, um sentido. Ou em busca de alguém, um olhar que compreenda, um toque que acalme, uma presença que preencha o espaço vasto da solidão.

Essa busca é a respiração secreta do mundo dentro de mim, o murmúrio constante sob o ruído dos dias. Ela atravessa paisagens e épocas, veste diferentes roupagens, mas a essência é a mesma: o ser eterno a procurar, a esperar, a estender-se rumo a algo ou alguém.




terça-feira, 9 de julho de 2019

MUDEZ INTERIOR

 

Mudez Interior

 

Minhas palavras não têm som.

Elas nascem e morrem

no avesso da garganta,

um grito mudo que só eu entendo.

 

Não há eco,

nem melodia.

Apenas o silêncio denso

do que não se diz,

do que se desintegra antes de tocar o ar.

 

São como ondas sem praia,

chuva que não atinge o chão,

um sussurro que se perde

no próprio abismo.

 

E talvez seja melhor assim.

Que elas habitem o não-dito,

esse espaço secreto

onde a verdade não precisa

de voz para existir.

 

sexta-feira, 28 de junho de 2019

PÁGINA EM BRANCO

 

Página em Branco

 

Não escrevi nenhuma história.

Minha vida é um livro

de páginas lisas,

intocadas.

 

Nenhum enredo de aventura,

nem drama, nem riso alto.

As canetas secaram,

as palavras calaram

antes de virar tinta.

 

Sou o começo que não explodiu,

o meio que não teceu,

o fim que nem chegou a ser ponto.

Um rascunho de alma

sem linhas para preencher.

 

Mas talvez na ausência,

na tela vazia,

esteja a minha verdade.

A quietude de quem vive

sem precisar contar.

Onde a história é só o sopro,

o ar que se respira,

e se dissipa sem deixar vestígios.



 

terça-feira, 25 de junho de 2019

quarta-feira, 19 de junho de 2019

SOBREVIVER ÀS PERGUNTAS

 

Sobreviver às Perguntas

 

Não são só as respostas que pesam,

mas a avalanche de interrogações

que brotam da terra, do ar,

do silêncio mais profundo.

 

Elas chegam como maré cheia,

onda após onda,

cada uma trazendo seu grão de areia

de dúvida existencial.

 

Como respirar sob tanto "porquê"?

Como caminhar quando o chão

é feito de "e se"?

Não há abrigo, não há fim.

 

A luta não é para encontrar o porto,

mas para aprender a boiar

no oceano de "quem sou eu",

de "qual o sentido".

 

É um fôlego longo,

um músculo da alma que se estica

para não ceder ao abismo

aberto por cada nova questão.

 

E assim, entre um ponto e outro,

entre o abismo e o abismo,

eu aprendo a existir,

não apesar das perguntas,

mas por causa delas.

Sobreviver é a única resposta,

quando todas as outras

se recusam a chegar.

 


sábado, 15 de junho de 2019

Foto de Barra do Piraí - Praça Pedro Cunha - 14-01-2018 - Vicente Siqueira

 

Foto de Barra do Piraí -

Praça Pedro Cunha -  

14-01-2018 -

Vicente Siqueira

VIDA SENTIDA EM CARNE VIVA

 

Vida Sentida em Carne Viva

 

E a vida sentida em carne viva,

cada toque, uma pontada.

Não há escudo, não há pele grossa,

apenas a exposição crua da alma.

É como se os nervos estivessem à flor da pele,

captando cada vibração, cada sussurro do mundo.

 

O amor, quando surge, é um incêndio;

a dor, um abismo sem fim.

Não há meios-termos, não há tons pastéis,

apenas a explosão das cores mais intensas,

pintando a existência com traços fortes e violentos.

A sensação é tão real, tão presente,

que a respiração se torna um ato consciente,

uma luta para suportar o que se sente.

 

quinta-feira, 23 de maio de 2019

RUAS EM SILÊNCIO

 

Ruas em Silêncio

Quando a cidade dorme
as ruas se fazem silêncio
um silêncio que fala
em vozes mansas e pausadas

não há pressa nem barulho
apenas o sussurro do vazio
e o eco das lembranças
que ficaram no asfalto

essas ruas silenciosas
guardam os segredos do dia
os passos que não ouvimos
e os sonhos que ainda vêm

é no silêncio da rua
que encontro a paz oculta
a promessa de um novo
amanhecer

O EFÊMERO TEATRO DA VIDA

 

Efêmero Teatro da Vida


Eu me sento, espectador silencioso,

no grande palco do mundo.

As luzes mudam com o passar das horas,

o cenário, a cada estação.

E os atores, nós mesmos,

entram e saem de cena,

em um balé constante de chegadas e partidas.

É o teatro efêmero da vida.

 

Eu observo os figurinos, as máscaras,

as expressões que mudam a cada fala,

a cada passo.

Há o drama, a comédia, a tragédia,

tudo misturado em um enredo sem ensaio prévio.

As cortinas se abrem e se fecham,

e a cada ato, uma nova versão de nós surge,

moldada pelas experiências,

pelas dores, pelos amores.

 

Há cenas que eu gostaria de pausar,

de reviver em câmera lenta:

o riso que explodiu sem motivo,

o abraço que me aqueceu a alma,

o instante de revelação que mudou tudo.

E há outras que eu gostaria de apagar,

de reescrever,

mas o script não permite.

A vida segue seu curso imparável,

e nós, apenas interpretamos nossos papéis.

 

Eu sinto a fragilidade de tudo.

A beleza que desabrocha e fenece,

a voz que se cala,

o olhar que se perde no horizonte.

Mas também sinto a força da impermanência,

que nos ensina a valorizar cada aplauso,

cada silêncio,

cada respiração no palco.

 

E ao final do dia, quando as luzes diminuem,

e o palco se prepara para a próxima performance,

eu me levanto, talvez um pouco mais sábio,

um pouco mais consciente

de que sou parte dessa grande peça sem fim.

E a cada amanhecer,

a cortina se ergue novamente,

e eu estou pronto para o meu próximo ato,

nesse teatro efêmero e maravilhoso que é viver.

domingo, 12 de maio de 2019

INFLAÇÃO - MONSTRO VORAZ

Inflação - Monstro Voraz

O pão na prateleira

Olha pra mim

Com um preço que era de ontem

Mas hoje

É o dobro

Ou mais.

O carrinho do mercado

Encolhe.

As marcas preferidas

Viraram luxo.

A gente faz conta

No corredor

Com a calculadora do celular

E a esperança minguando.

O salário?

Ah, o salário...

Um papel que derrete

Nas mãos.

Compra menos,

Vale menos,

A cada dia que passa.

O futuro fica turvo.

Os planos,

Aqueles pequenos sonhos

De uma viagem,

De uma reforma,

De um conforto a mais,

Adormecem.

Ou fogem.

A gente aperta o cinto.

De novo.

E de novo.

Até sentir o osso.

O dinheiro que não dá

É a conversa da esquina,

Do almoço,

Do fim do dia.

Inflação alta.

Não é só um número

Na notícia.

É a vida que encolhe

No prato,

No bolso,

Na alma da gente.


MONSTRO VORAZ

(Soneto sem fim)

O preço sobe em rampa sem ter fim,

E o troco some, vira pó no ar,

O que era certo, hoje é incerto assim,

O quilo do queijo, triste de pagar.


A feira murcha antes de chegar em casa,

O sonho de ter algo vai morrendo,

A cada novo dia, a vida escassa,

O bolso chora, a gente vai sofrendo.


A conta chega cruel, sem ter piedade,

O plano de poupar, vira miragem,

E o futuro incerto, sem claridade,


A vida aperta em cada nova passagem.

Assim a inflação, monstro voraz,

Consome a esperança, rouba a paz.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

CENSORED

 Censored

porque meus lábios prenunciaram
tanta batalha de ser contrário ao cérebro,
que insistia em afirmar:
não,
que o momento não se fazia preparado.
quedaram-se, então,
lábios e pensamentos
apressados em ânsias
de tanto se entregar
à procura dos arrepios,
dos movimentos desconexos,
dos prazeres da pele
— e do corpo mais profundo.
refeitos do susto causado
pelo encontro com o instante
de encantamento
e de louvor ao prazer,
quem passou a dar ordens
ao cérebro, antes tímido,
foram, a um só tempo,
lábios e mãos
que, despudorados,
não se permitiam censuras.

quarta-feira, 1 de maio de 2019

INSÔNIAS 

 

INSÔNIAS

Escancarou-se a boca da noite,
a engolir-me em seus
deprimentes silêncios,
estilhaçando cristais.

Seus tentáculos sustentados
em minha garganta,
tirando-me a calma
e a alma.

Lá, não-sei-onde,
o badalar de não-sei-quantas
horas a avisar-me
que se avizinhava a manhã,
doentia,
grávida de sol.

Não é o tempo que não passa,
são os cães que não ladram,
as corujas que não piam,
o aquário que não borbulha,
(e os scotchs que não são mais
os mesmos,
definitivamente não são).

A cama se faz imensa,

mas o abandono me reclama,
enquanto o buscar solitário
da saciedade
ainda se refestela em mim,
em gotas que,
cristalinas,
despencam do chuveiro
reparador.


Foto de Barra do Piraí - RJ - Rua Governador Portela - 03-02-2018 - Vicente Siqueira

 

Foto de Barra do Piraí - RJ -

Rua Governador Portela -

03-02-2018 -

Vicente Siqueira