Cidade Adormecida
A cidade dorme lá fora, um
manto escuro
sobre prédios e avenidas
silenciosas.
Mas não eu.
Aqui dentro,
onde a esperança também
tira um cochilo,
no lado esquerdo do peito,
ecoam suas palavras
ditas em um sussurro quase
inaudível:
"A vida é muito
curta."
E elas ainda me
estremecem,
um arrepio frio
em madrugadas que se
estendem demais,
lembrando-me do tempo que
corre,
invisível, implacável.
Como um vento que passa
e leva consigo
o que não foi vivido,
o que não foi dito,
o que não foi amado.
E por que não foi vivido?
A pergunta paira
no ar pesado da madrugada,
como a poeira que se
acumula
em sonhos guardados.
Medo, talvez.
Ou a distração das horas,
a rotina que cega.
O que nos prende
ao chão,
enquanto o céu espera
sempre aberto.