terça-feira, 10 de junho de 2025

O PREÇO ÍNFIMO DA LIBERDADE

 

O Preço Ínfimo da Liberdade

Ele caminhava pela rua, ou talvez se arrastasse por dentro de si mesmo – as fronteiras eram sempre tão tênues. A liberdade, aquela palavra que ecoava como um sino rouco nos seus pensamentos, parecia pairar à distância, uma miragem cintilante no asfalto quente. Mas o peso nos ombros, um fardo invisível tecido de expectativas e silêncios engolidos, lembrava-o a cada passo da sua prisão. Não as grades de ferro, mas as invisíveis, construídas com a argamassa do medo e da obrigação.

 

A busca pela liberdade não era um grito heroico, mas um murmúrio hesitante nos seus dias. Um desejo de despir-se da couraça forjada pela necessidade de ser forte, de ser provedor, de ser o esteio. E sob essa couraça, ele pressentia a pulsação frágil de um coração que ansiava por se mostrar vulnerável, por confessar o cansaço, o medo da falha, a sede de um afeto desprovido de cobranças.

 

A liberdade que ele buscava não era a de voar alto e solitário, mas a de pousar em terra firme, sem a máscara do invencível. Era a permissão para sentir a dor sem a urgência de escondê-la, para derramar uma lágrima sem a vergonha de ser visto. Era, em suma, a licença para ser imperfeito, para ser humano em sua mais crua e delicada essência.

 

E nessa procura hesitante, ele descobria o paradoxo: a verdadeira liberdade não residia na ausência de correntes, mas na coragem de expor as feridas, de aceitar a própria vulnerabilidade como parte intrínseca da sua humanidade. O preço da liberdade, ele percebia, não era a luta grandiosa, mas o gesto ínfimo de abaixar a guarda, de confessar a própria fragilidade. E nesse gesto, surpreendentemente, encontrava uma força que jamais imaginou existir. A liberdade, afinal, era a casa onde a alma, despida de suas armaduras, podia finalmente respirar.

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