sexta-feira, 6 de junho de 2025

PELE NOVA

 

       


   

    Pele Nova

 

Não é simples, esse agora. Não é a linha reta que se traça com urgência, mas um emaranhado de silêncios que antes eram conforto. O tanto não querer, a névoa densa do "talvez um dia", do "não agora", se vestiu de uma pele nova. Não é renúncia, nem sequer aceitação plena. É um limite que surge, não dito, mas presente como o ar pesado antes da chuva.

 

O que se transforma, afinal? Não é o desejo de fugir, mas a exaustão de se esquivar. A ambiguidade, antes um refúgio acolhedor, revela-se um labirinto sem saída. O "basta" não grita, mas sussurra no fundo, um som quase inaudível, mas que ressoa em cada fibra. É a percepção de que a ausência de envolvimento, essa fuga constante, se tornou a própria forma de se perder. E o que era proteção, agora é o muro que aprisiona.

 

Há um cansaço que não se nomeia. Não é o cansaço do fazer, mas do não-fazer, do não-ser. Esse "agora basta" é a face oculta do desejo que existiu, que se negou, e que agora, ao se manifestar como limite, insinua a necessidade de um outro tanto. Um tanto de algo que antes se evitava. Um envolvimento que se recusa a ser ambíguo. Mas o que virá depois? O silêncio, talvez, responda. E a resposta, como sempre, estará no que não se diz.

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