Pele: O Grito Secreto do Conhecimento
E então, sem alarde, quase em rendição, quedaram-se. Ficaram
mudos, inertes, lábios e pensamentos apressados. Aquela ânsia, que era uma sede
primária de tanto se entregar. Entregar-se à procura dos arrepios, que são a
linguagem mais antiga da pele, a verdade que não se aprende em livros, mas na
fina camada que nos separa e nos conecta ao mundo.
Dos movimentos desconexos, que são a coreografia do abandono.
O corpo que se entrega não mais ao comando, mas à súbita e doce anarquia da
sensação. Um braço que se estende, uma mão que se fecha, não por vontade, mas
por um impulso ancestral que brota do mais fundo. Ali, na epiderme, nas poros
que respiram a vida, a inteligência da pele se fazia soberana.
Dos prazeres da pele, sim. Mas também do corpo mais profundo, aquele que reside além da forma, no cerne da própria sensação. Um corpo que não é apenas carne, mas memória, pressentimento, um repositório de tudo que se é e se foi. E esse silêncio que clama por um outro tipo de conhecimento, um saber que a mente, com sua lógica e seus argumentos, não alcança. É um saber bruto, animal, que antecede a palavra e a razão. Um saber que pulsa na superfície e se aprofunda até o osso, revelando a nós mesmos o que somos, antes mesmo de pensar que somos. A pele, essa nossa fronteira mais exposta, é a própria revelação do mistério de estar vivo.
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