Do Outro Lado
Já
estou do outro lado.
Não percebi a travessia.
Foi um cansaço doce,
um respirar mais longo,
e o chão se desfez em céu.
Aqui,
tudo tem nome novo.
As árvores não se chamam mais “árvores”,
mas “lembranças em flor”.
Os rios sussurram nossos sonhos esquecidos
em línguas que ainda não aprendemos
mas já entendemos de algum modo.
Do
outro lado,
não há fim nas manhãs.
O tempo não corre —
ele dança,
e somos levados com ele
sem pressa de chegar.
Cada
ser brilha por si,
como quem sabe que ser estrela
não é estar no alto,
mas acender-se por dentro.
Nos
reconhecemos pelos brilhos.
Não há rostos,
mas presenças.
Não há muros,
mas caminhos entrelaçados
por afinidade de luz.
E
quando alguém pergunta — se ainda pergunta —
“o que é a vida?”
a resposta não vem com palavras,
mas com uma música que nasce dos passos,
com um abraço que atravessa os corpos
como vento atravessa a chama
sem apagar.
não somos mais buscadores.
Somos achados.
Somos começo onde antes era ponto.
Somos estrelas umas nas outras,
refletindo o eterno
em pequenas centelhas
de agora.
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