O
Vazio que Não se Preenche
Nenhum
recado. Nada.
Nem
a delicadeza de um e-mail, essa modernidade tão pálida. Nem a promessa gasta de
uma carta, dobrada e guardada no tempo. Ou a urgência íntima de um bilhete,
rabiscado na pressa que o amor, às vezes, permite. Nada que preencha os espaços.
Esses abismos minúsculos entre um ponto e outro da existência. Com letras, essa
invenção tão humana e tão insuficiente. Ou palavras, essas criaturas que nascem
e morrem no ar, sem jamais tocar o centro de nada. Ou mesmo os sinais de
fumaça, essa ancestralidade que se ergue e se desfaz no vento. Ou o ritmo
batendo de tambores, esse chamado primitivo que se perde na indiferença do
mundo. Nem os repiques agudos de tarol, ou a caixa-de-guerra, essa ressonância
que anuncia combates ou desfiles. Nada. Nada mesmo.
Nada
que fizesse lembrar. As tantas promessas. Aquelas que surpreendiam pela
ousadia, pela nudez de um futuro que se oferecia sem pudor. Promessas que eram,
em si mesmas, um modo de ser, um modo de existir além do agora. E agora, o
vazio, essa certeza insuportável de que nada se anuncia.
Que
viesse ao menos. Ah, o mínimo, o ínfimo. Um mísero pombo-correio, esse arauto
de outras eras, trazendo em sua pata um fio de esperança. Com uma pequena
mensagem, ainda que passageira como a nuvem que se desmancha no céu. Ainda que
ilusória, como a miragem no deserto da alma. Ainda que transitória, como a vida
que flui e não se agarra. Uma única palavra. Apenas uma. Que externasse a
vontade. Não a minha, mas a de outro, a de um universo paralelo que se dignasse
a se manifestar. A vontade de mostrar a mim. A mim, esse ser que se debate em
sua própria incompreensão. Que eu poderia ter esperança.
Porque
todos aqueles momentos. Os passados, sim. E os esquecidos, esses que se
desfazem na névoa da memória. Os amarelecidos, com o tempo que os mancha e os
desfigura. Esses poderiam. Poderiam ser revividos. Não como repetição, mas como
ressurgimento. Uma ressurreição sutil que se daria no mais profundo do ser,
onde a ausência se torna a forma mais aguda de presença. Mas nada veio. E no
não-vir, o que se fez, afinal, foi o silêncio. Um silêncio que, paradoxalmente,
dizia tudo sobre a irreversibilidade do que não volta.
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