segunda-feira, 2 de junho de 2025

AS SEMENTES E O TEMPO

 

As sementes e o Tempo

 

As sementes cochicham segredos ao chão,

palavras que só as raízes entendem.

Dormem sob a pele da terra,

sonham com florestas impossíveis.

O vento tenta convencê-las a desistir,

mas elas gargalham sem boca,

respiram silêncio e insistência,

pois sabem que o impossível é apenas

uma estação passageira.

 

Então, numa manhã que não existe,

crescem.

E o céu, surpreso,

se curva para vê-las.


O tempo não avisa,

apenas chega.

 

Passa os dedos pela pele,

desenha marcas que ninguém pediu,

leva embora nomes que um dia foram mundo.

 

O tempo não espera,

mas também não corre.

Observa, paciente,

como as folhas caem,

como os rios mudam de caminho,

como o silêncio se torna memória.

 

E quando tudo parece imóvel, ele ri,

porque sabe: até o eterno muda.


Hoje a palavra é tua,

é teu o gesto que decide.

Pela sala quase emudecida 

só se ouve a tua voz.


Mas há olhos no canto da sala: 

Olhos que gritam,

e silêncios que dizem

mais que a ordem contida.

                                                                                                                             VICENTE 



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