terça-feira, 10 de junho de 2025

MARTELO DE BORRACHA

 

Martelo de Borracha no RH Celeste

Martelo de borracha,
bigorna zen,
salta do bolso de um palhaço aposentado
e sobe num foguete de tapioca.

Lá em cima —
onde os satélites dançam lambada
com balões de festa infantil —
ele prega com pregos de sonho
em nuvens de algodão doce.

“Você será equilibrista de pensamentos!”
grita ele para um raio tímido.
“E você, garçom de luz solar molhada!”
diz, martelando forte, sem fazer barulho,
porque barulho não combina com sonho.

Cada martelada é um contrato assinado
com cheiro de marshmallow e promessa de riso.
As nuvens suspiram,
a Via Láctea toma nota em papel de bala,
e o céu ganha um RH psicodélico.

No fim do expediente,
o martelo guarda sua gravata de arco-íris,
toma um café com poeira estelar
e dorme num envelope de brisa.

Amanhã tem mais vaga no firmamento.




Vaga no Firmamento

Chegou a tal vaga no firmamento:
“Procura-se sonhador com experiência em voar sem asa,
e currículo preenchido a lápis de cor.”

O anúncio piscava no céu da boca da noite,
com fonte cursiva e um leve sotaque de estrela cadente.
Requisitos?
Saber conversar com silêncios,
plantar ideias em pedras flutuantes,
e rir de barriga pra cima.

O martelo de borracha —
agente oficial do destino surreal —
bateu três vezes na aurora boreal
e selou o contrato com um trovão de pelúcia.

O novo contratado chegou
de skate feito de gelo derretido,
com um portfólio de delírios
e uma carta de recomendação escrita pelo vento.

Agora ele cuida das constelações tímidas,
regando com poesia as que têm medo de brilhar.
Bate ponto com beijos no infinito
e organiza piqueniques de cometas ansiosos.

Vaga preenchida.
O firmamento sorri.
E o impossível, enfim, tem crachá.





O Destino Surreal do Agente Oficial

O martelo de borracha,
agente oficial do desatino celeste,
foi promovido sem saber:
chegou-lhe uma carta dentro de um eclipse
escrita em caligrafia de cometa.

"Missão: redirecionar os ventos equivocados,
ensinar planetas órfãos a girar com propósito,
e dar sentido às estrelas que desistiram de cintilar."

Ele partiu montado num carrossel de névoa,
levando apenas um chapéu-cósmico e
um mapa dobrado feito de dúvidas.

Passou por nebulosas entediadas,
reinstalou a esperança com pregos invisíveis
e parafusou um arco-íris invertido
na curva da galáxia mal-humorada.

Fez oficina de reencanto com buracos negros,
ensinou galáxias a respirar devagar,
e no intervalo, pregava sonhos de segunda mão
no céu de quem dormia sem esperança.

Certo dia, numa esquina entre Andrômeda e o suspiro,
conheceu um satélite sem órbita,
que vendia lembranças esquecidas por deuses aposentados.
Fizeram amizade.
Montaram juntos um boteco de tempo reciclado,
onde o cardápio tinha:
— nostalgia flambada,
— passado em conserva
— e futuro defumado.

Hoje, o martelo vive em rotação semi-permanente,
bate o ponto em auroras-boreais,
e quando não está em missão,
prega poesia no espaço-tempo,
como quem semeia o absurdo
pra colher o espanto.



Onde o Martelo Colhe o Espanto

É um campo vasto, flutuante,
onde as leis da física usam fantasia.
Ali, o solo é feito de perguntas não respondidas
e o céu chove interjeições.

O martelo de borracha caminha devagar,
com sua enxada feita de espelho
e uma cesta trançada com fios de dúvida.

Ele planta espanto com o cuidado de quem
semeia segredos em ouvidos de criança.
Cada buraco na terra leva um suspiro,
um “uau”, um “não acredito!”,
e por cima, um punhado de silêncio fértil.

Quando brota, o espanto vem em formas inesperadas:
— um peixe voador com olhos de espelho,
— um relógio que ri em vez de tocar,
— uma porta no meio do nada
que leva a todos os lugares.

Colher espanto exige delicadeza.
O martelo, com mãos de galáxia,
escolhe só os maduros:
aqueles que brilham com um susto bom
e têm gosto de “nunca vi igual”.

Depois ele leva a colheita
para mercados interestelares,
onde poetas, sonhadores e bichos falantes
disputam as melhores unidades com moedas de arrepio.

No final do dia,
o martelo repousa num balanço de vento,
com um caderno de nuvem no colo
e anota:
“Espanto do dia: uma lágrima que ria por dentro.”



A Lágrima Que Ri por Dentro

A lágrima caiu devagar,
não por dor,
mas por excesso de encantamento.
Era uma lágrima diferente —
daquelas que fazem cócegas por dentro
antes de escorrer.

O martelo de borracha a encontrou
numa flor que não sabia se era planta ou lembrança,
enquanto colhia espanto ao som de um trovão manso.

Pegou-a com a ponta do dedo,
como quem segura um instante frágil,
e ouviu, dentro dela,
uma risada pequenininha,
de criança vendo o mundo pela primeira vez.

Não era uma risada qualquer.
Tinha eco de saudade alegre,
de abraço guardado,
de memória que só molha o olho
pra não explodir o peito.

Ele guardou a lágrima em um frasco de vento,
colocou uma etiqueta:
"Riso em estado líquido",
e levou para os arquivos da emoção escondida,
onde ficam guardados os sentimentos
que ninguém sabe nomear,
mas todo mundo já sentiu.

Alguns dizem que,
de tempos em tempos,
a lágrima escapa e dança pelos corredores,
fazendo cócegas nos pés dos cometas
e despertando lembranças
em quem já tinha esquecido de lembrar.


A Fábrica de Submarinos de Marshmallow

O martelo de borracha estava entediado —
já colhera espanto demais,
já plantara silêncio nas crateras do caos.
Precisava de algo novo, absurdamente útil.

Foi quando encontrou o prego de gelatina,
tremelicando sozinho num campo de ideias semi-cozidas.
Tinha olhos molengas, voz doce,
e um sonho impossível grudado na testa:
“Quero pregar o impossível sem machucar ninguém.”

Amizade instantânea.
Um aperto de mão que fez “ploc”.
Juntos, decidiram abrir a primeira
Fábrica Intergaláctica de Submarinos de Marshmallow.

A missão?
Bombardear as nuvens de algodão doce
com mísseis recheados de sonho,
pra ver se o céu enfim se lambuza de alegria.

Montaram o galpão num cometa aposentado,
usaram fios de mel para costurar as estruturas,
e contrataram um coral de vaga-lumes engenheiros
pra dar aquele toque luminoso no projeto.

Os submarinos eram macios,
flutuantes e absurdamente lentos —
mas continham no casco
um sistema de propulsão movido a gargalhadas contidas.

Cada lançamento era uma festa:
o martelo pilotava com luvas de vento,
o prego dava a largada com um salto caramelo,
e o céu inteiro assistia,
em êxtase, ao bombardeio mais doce do universo.

As nuvens?
Ah, as nuvens dançavam.
Ficavam encharcadas de doçura,
escorriam em calda de afeto,
e pingavam ternura nos planetas abaixo.

E assim, martelo e prego,
dupla improvável de construção surreal,
seguem em missão perpétua:
transformar o absurdo em abrigo,
e provar que até as guerras imaginárias
podem ser recheadas de afeto.


O Coral de Vaga-Lumes Engenheiros

Chamados às pressas por um anúncio em código-luz,
os vaga-lumes engenheiros chegaram zunindo partituras.
Eram 88 ao todo —
cada um com um capacete de pétala
e uma lanterna no peito que piscava em sol maior.

Especialistas em engenharia lumínica e harmonia estrutural,
trabalhavam cantando fórmulas impossíveis,
do tipo que só faz sentido quando entoadas com fé.

O projeto era claro (e doce):
construir submarinos que flutuassem entre a física e a fantasia.
Mas com marshmallow como matéria-prima,
cada erro era uma afundada melada.

O coral não se abalou.

Cantavam em escala espiral,
fazendo as moléculas de açúcar se alinharem em sinfonia,
regendo vigas de mel com vozes que dobravam o tempo.
Construíram hélices de vento condensado,
assentos que sussurravam encorajamento,
e para-brisas que só embaçavam de emoção.

Um deles, o Maestro-Engenheiro Fausto Lumine,
descobriu acidentalmente o efeito doçura reversa:
quando o casco do submarino é tocado por tristeza,
ele responde emitindo uma nota
capaz de derreter mágoas de até cinco vidas passadas.

Graças ao coral,
os submarinos ganharam alma.

E ao final de cada jornada,
os vaga-lumes se reuniam no topo da fábrica
e acendiam em uníssono uma canção-lâmpada,
que podia ser vista da galáxia do lado —
um brilho que dizia:
“Aqui, até o impossível é feito com cuidado.”





Missão: Fazer o Impossível com Bastante Cuidado (Pra Não Desandar)

O martelo de borracha acordou com um bilhete
preso na testa por um fio de pensamento:

“MISSÃO URGENTE: realizar o impossível.
Mas com delicadeza.
Por favor, evitar desandar o universo.”

Assinava: A Direção dos Absurdos Sensíveis.

Ele levantou devagar, espreguiçando a lógica,
vestiu sua jaqueta de incerteza confortável
e partiu montado num tapete de hesitação.
Levara na mochila só o essencial:
— Um prego de gelatina
— Uma colher de intuição
— Um manual de como improvisar sem pressa

O destino?
Um planeta chamado Talvez,
onde a gravidade muda de humor
e as árvores crescem pra dentro de si mesmas.

Ali, o impossível era cultivado em estufas de cuidado extremo.
Estava prestes a desabar um castelo feito de eco,
e só o martelo poderia batê-lo no lugar certo —
com força suficiente pra manter a estrutura,
mas leve o bastante pra não acordar os medos.

Ele se aproximou.
Respirou com o coração.
Leu o silêncio no ar.
E, num gesto de afeto técnico,
deu uma martelada sutil como beijo de brisa.

O castelo suspirou.
As paredes se abraçaram.
E uma nova sala nasceu do gesto:
um cômodo chamado Esperança Reciclada.

Missão cumprida.

Antes de partir, o martelo deixou um bilhete preso no vento:
“O impossível, quando bem tratado, floresce.”

E seguiu —
pés leves, cabeça nas nuvens,
pronto pra pregar mais absurdos
com o cuidado de quem sabe que
a fantasia é coisa séria.




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