sexta-feira, 6 de junho de 2025

SAUDADE SUBTERRÂNEA

 


Saudade Subterrânea

 

A saudade, sorrateira.

Não se anuncia em portões,

nem bate à porta.

Ela desliza, rente ao chão da alma,

como a sombra de um pássaro que não existe.

Um arrepio na nuca do tempo,

um quase-suspiro que se perde.

 

Não é dor que berra,

mas um vazio mudo,

onde antes pulsava um tanto.

Um lugar de eco,

onde a memória acende e apaga

lâmpadas trêmulas.

É o cheiro de um livro antigo

que se abriu sem querer.

A canção que o rádio distorceu,

mas que a pele reconhece.

 

A introspecção vira uma conversa de sussurros,

com fantasmas gentis.

A gente se pergunta:

o que ficou de mim no que se foi?

E o que se foi, afinal,

está mesmo ido, ou apenas camuflado

na poeira fina do que não se toca?

A saudade, ela não volta.

Ela sempre esteve,

e é isso que assombra.

Um pedaço de nós que se esconde,

esperando o próximo instante de silêncio

para se revelar.



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