sábado, 24 de maio de 2025

ENTREGA

 

Entrega

Não há ruptura sem violência,
nem violência
sem a entrega.

é preciso rasgar a seda
pra vestir a nudez da mudança.
nada se quebra de leve —
o som do fim
é sempre agudo demais
pra não ferir.

às vezes somos os estilhaços,
às vezes, a mão que solta.
mas toda dor que arranca
também abre.

e entre a dor e o depois,
há um instante em que tudo para —
um respiro
que já não pertence
nem ao que fomos,
nem ao que vem.

a entrega
não é rendição.
é o gesto quieto
de quem diz:
não aguento mais sustentar
o que me pesa além da alma.

e assim,
na violência do adeus,
começa
o espaço do novo.

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