Na Fronteira Entre Mim e Eu: O Duplo Espelho
Estou na
fronteira entre mim e eu, onde o reflexo no espelho, às vezes, sorri
antes de mim. Não é um truque de luz, nem cansaço. É que meu "eu" do
outro lado, o que habita a dimensão paralela do meu próprio ser, tem vida
própria. Ele pisca antes, respira mais fundo, e um dia, juro, sua lágrima rolou
antes da minha, escorrendo pela superfície fria do vidro.
Às vezes,
quando a insônia aperta e a madrugada estica, meu "eu" do espelho se
desprende. Flutua pela sala como uma névoa densa, mas com a forma exata dos
meus contornos. Sento na cama, ele se senta no chão, os olhos fixos nos meus,
as pupilas dilatadas absorvendo o silêncio. Conversamos sem palavras, um
diálogo de anseios e medos que só o ar pesado da noite consegue traduzir. Certa
vez, ele estendeu a mão diáfana e tocou meu rosto, e senti um arrepio gélido,
como se um fantasma de mim mesmo me acariciasse.
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