Concreto-Zen
A laje fria, sob a luz de mercúrio pálida, não tem pulmões. Mas o silêncio que emana dela, denso, urbano, é um tipo de respiração.
Um nada sonoro. Não o vazio absoluto, mas a ausência de grito, de buzina histérica, de sirene cortando a noite.
O concreto absorve o barulho engolido do dia, e exala... isto. Este quase-som, a impressão fantasma do ruído, o potencial adormecido do estrondo.
É o zen da cidade, talvez. A meditação forçada da madrugada, onde até o asfalto parece contemplar o próprio silêncio.
O concreto respira a promessa de mais um dia caótico, o descanso breve entre o barulho que foi e o barulho que inevitavelmente virá.
Nesse nada sonoro, escuto a batida do meu próprio coração, único som concreto na respiração abstrata da cidade.
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