quinta-feira, 15 de maio de 2025

VAZIO

 

Vazio

O ar imóvel. As partículas suspensas parecem deter o próprio movimento, como se reverenciassem algo invisível e poderoso. É o silêncio que se instala, denso e acolhedor, e percebo, com uma clareza quase dolorosa, que ele é a única melodia a preencher o espaço ao meu redor. Não há o tráfego distante, nem o canto insistente dos pássaros noturnos. Apenas esta ausência de som, que paradoxalmente se manifesta como uma presença palpável.

Este silêncio não é um vazio, mas um ventre onde outros sons podem nascer. É a tela neutra onde a imaginação projeta seus próprios acordes, onde a memória musical ressoa em ecos suaves. Nele, ouço o pulsar lento do meu próprio sangue, o roçar sutil das minhas vestes, a respiração que entra e sai, um ritmo ancestral que a cacofonia do mundo usualmente abafa.

É uma melodia feita de pausas, de espaços entre as notas imaginárias. Uma sinfonia introspectiva, onde cada fibra do meu ser vibra em uníssono com a ausência de ruído externo. Neste silêncio que me envolve, desvencilho-me das harmonias dissonantes do cotidiano e permito que a canção silenciosa da minha própria existência preencha, por fim, todo o espaço ao meu redor. É uma música antiga, sussurrada desde o princípio, e só agora, no oásis do silêncio, consigo finalmente ouvi-la em sua plenitude.

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