domingo, 25 de maio de 2025

NA ROTINA

 Na Rotina

ela perguntou se tudo estava bem

a pergunta ecoou no quarto vazio

um sussurro para as paredes

para o silêncio que a envolvia

 

não buscava resposta

apenas preenchia a ausência

o medo sutil de sua própria voz

pairando sem interlocutor

 

e nem havia espelho para confrontar o rosto solitário

 apenas a janela escura

refletindo vaga a sua sombra

 

a sensação incômoda

 de um afastamento invisível

 as pessoas se esvaindo

 como fumaça na memória

 

será que a pressa era sua?

o vôo talvez alto demais

desconectando-a da terra firme

 dos passos mais lentos

 

no labirinto da mente

recordações ambíguas

giravam mecanismos gastos pelo tempo

 um choque inesperado

 

e a memória daquele tempo

presa na textura do pijama

de flanela macia e infantil

 sob o peso morno do edredom

 

a televisão ligada

a voz familiar do domingo

e a ausência gritante de uma mão na sua


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