Na Rotina
ela perguntou se
tudo estava bem
a pergunta ecoou
no quarto vazio
um sussurro para
as paredes
para o silêncio
que a envolvia
não buscava
resposta
apenas preenchia
a ausência
o medo sutil de
sua própria voz
pairando sem
interlocutor
e nem havia
espelho para confrontar o rosto solitário
apenas a janela escura
refletindo vaga
a sua sombra
a sensação
incômoda
de um afastamento invisível
as pessoas se esvaindo
como fumaça na memória
será que a
pressa era sua?
o vôo talvez
alto demais
desconectando-a
da terra firme
dos passos mais lentos
no labirinto da
mente
recordações
ambíguas
giravam
mecanismos gastos pelo tempo
um choque inesperado
e a memória
daquele tempo
presa na textura
do pijama
de flanela macia
e infantil
sob o peso morno do edredom
a televisão
ligada
a voz familiar
do domingo
e a ausência
gritante de uma mão na sua
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