Coisas que eu jamais vi
Há coisas que eu
jamais vi,
mas sinto como se fossem lembrança.
Como a curva exata de uma estrela cadente,
ou o barulho do primeiro som do mundo
antes que tudo tivesse nome.
Nunca vi o fundo
do mar,
mas às vezes escuto conchas
sussurrando segredos no silêncio da sala.
Nunca vi neve cair pela primeira vez,
mas carrego em mim o frio
de algo que ainda não aconteceu.
Não vi as auroras
dançarem ao norte,
mas sonho com elas
como quem se deita no colo de uma cor.
Há gestos que
nunca toquei,
rostos que nunca encontrei,
e mesmo assim vivem em mim
como presságios doces.
Coisas que eu
jamais vi
me escrevem pelas bordas —
feito vento que não se mostra,
mas muda tudo por onde passa.
E às vezes penso:
talvez a beleza mais funda
não esteja no que se vê,
mas no que vive escondido,
esperando que alguém imagine.
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