sábado, 3 de maio de 2025

DIZEM QUE VIROU VENTO

 Dizem que Virou Vento

Dizem que virou vento.
Não partiu —
evaporou-se das margens do visível.
Não morreu —
esvaziou-se de forma até ser passagem.

Agora atravessa sem anunciar.
Toca sem tocar.
Muda o rumo das nuvens
com um pensamento que ninguém teve.

Há quem o sinta na dobra da pele,
no arrepio que vem sem frio,
na palavra que falha
justo no momento em que deveria ferir.

Virou vento
porque era leve demais para ser chão,
e denso demais para ser esquecimento.

Não sopra em todas as direções —
mas sempre na direção
de quem está prestes a desistir.

E quando chega,
não consola.
Apenas mostra que há fôlego
mesmo onde não há ar.

Virou vento,
sim —
e quem se deixar atravessar por ele
talvez também desapareça um pouco
das prisões do que é pedra.

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