sábado, 3 de maio de 2025

ENTRE UM GESTO E OUTRO

 Entre Um Gesto e Outro


Há sentimentos que não se escrevem,
nem em papel nem em voz.
Eles andam descalços entre os instantes,
como brisas que não têm nome,
mas sabem tocar.

São amores que não sabem se explicar,
mas esperam junto,
olham devagar,
guardam o outro sem pressa.

Eles vivem no intervalo —
entre o levantar de uma xícara
e o cuidado ao recolher os cacos.
Entre o fechar de uma porta
e a lembrança que ficou do lado de dentro.

Não têm rima nem gramática,
mas têm ritmo.
Não se declaram em versos,
mas se oferecem inteiros
numa ausência que cuida,
numa presença que não exige.

Porque há afetos
que não sabem soletrar-se,
mas sabem morar em nós
sem nunca se perder da casa.

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