fuso interno
tô sempre um passo atrás
do que eu mesmo sinto.
quando percebo a alegria,
ela já empalideceu.
quando o choro vem,
não sei mais o motivo.
meus relógios não batem com o mundo.
vivo num fuso interno
onde tudo acontece depois.
ou quase.
os outros andam em linha reta,
eu desvio.
não por estilo —
por atraso mesmo.
é difícil explicar esse tempo meu:
uma lentidão que cansa,
um cansaço que acelera.
uma antítese modorrenta
entre a urgência do mundo
e a hesitação do peito.
fico nessa marcha lenta
dentro de um mundo rápido,
pedindo licença pra sentir,
quando tudo exige reação.
e sigo.
às vezes na contramão,
às vezes parado.
mas sempre tentando alcançar
o que em mim
sempre chega depois.
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