Eu Não Estava Ali
Nem eu mesmo percebi
que eu não estava ali.
Respirava, sim —
mas era o mundo que respirava por mim.
Passei por mim como se passa
por uma porta fechada,
sem sequer tentar a maçaneta.
Não me encontrei.
Não me chamei.
Não sentei comigo à mesa
nem perguntei se havia fome.
Não houve conversa,
nem escuta.
Apenas ruído,
como um rádio esquecido num quarto vazio.
E então doeu —
doeu o que não foi dito,
o que não fui.
E percebi que o que eu queria,
mais do que qualquer resposta,
era me ouvir.
Só isso.
Me ouvir, enfim,
sem me interromper.
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