gente que não chegou
de manhã, abro a janela
como quem espera alguém.
mas nunca tem ninguém.
nem mesmo eu, às vezes.
o espelho já não me reconhece tão rápido.
me olha com dúvida,
como se dissesse:
"você de novo?"
passo o dia entre tarefas automáticas,
potes que guardam sobras,
emails que começam com “espero que esteja bem”
e ninguém quer saber se estou.
há um tipo de solidão que mora
na ausência de espanto.
quando tudo vira protocolo,
e até o choro tem horário pra acontecer.
ando pela casa
como se esperasse uma visita —
uma versão de mim
que talvez tenha se perdido pelo caminho.
e toda noite,
deito do lado esquerdo da cama
deixando espaço
pra gente que não chegou.
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